Uma nova semana já chegou, trazendo-nos também um novo mês. Para muitos é tempo de férias, de um ritmo mais calmo, de menor agitação e complicações, tempo de recarregar baterias e descontrair antes do início de um novo ciclo. No entanto, embora tal seja necessário e recomendável, é preciso compreender que esse reequilíbrio, tão importante e fundamental, só é possível quando integramos tudo o que vivemos no tempo que passou e focamo-nos num novo ciclo e em tudo o que realmente pretendemos para as nossas vidas.
Um dos maiores problemas que vivemos nos dias de hoje é o facto de tanto do que à nossa volta se passa nos distrair, nos tirar do centro de nós mesmos. Sejam as nossas próprias questões, sejam relacionadas com os nossos amigos ou familiares, com o trabalho, o país ou o mundo, tudo leva-nos a ter menos tempo para nós, a esquecermo-nos de cuidar de nós mesmos, a não ter atenção ao que o nosso coração nos diz, ao que o nosso próprio corpo nos transmite em cada momento. É por isso que, nestes momentos, procuramos parar e descansar um pouco, organizar algumas coisas, fazer tudo aquilo que nos meses anteriores tivemos dificuldade em fazer, mas, muitas vezes, encontramos grandes resistências, sentimos que o tempo passa a voar, que nada conseguimos, verdadeiramente, fazer e acabamos este tempo mais cansados do que antes.
Desde há algum tempo que, sem nos apercebermos, passamos pelas situações sem as vivermos, olhamos sem observar, tocamos-lhes sem as sentir. Agora, nomeadamente no início deste mês, por norma mais calmo e mais relaxante, precisamos de perceber se é esse o caminho que pretendemos continuar na nossa vida. Viver implica fazer parte de um caminho, senti-lo, integrá-lo, observá-lo, interagir, aceitar o seu percurso e, ao mesmo tempo, admirar tudo o que ele nos mostra. Com tudo o que temos vivido, que nos distrai e nos tira do nosso centro, perdemos essa faculdade, passámos apenas a passar por esse caminho que é a vida da mesma forma como vamos ao supermercado ou a outro sítio qualquer do nosso dia-a-dia, sem foco, sem presença, sem sermos nós mesmos. Agora, é tempo de retornar a nós mesmos.
O 8 de Paus relembra-nos da rapidez do mundo em que vivemos, da celeridade com que tudo acontece, como tudo nos é pedido, sem tempo para olharmos para nós, para, constantemente, nos reequilibrarmos, para sermos nós mesmos. Não vamos, certamente, mudar o mundo, transformá-lo num mundo mais calmo ou lento, mas podemos transformar o nosso próprio mundo, não no seu ritmo, mas sim no seu centro. Tão importante como a velocidade é o foco, aquele foco que tantas vezes perdemos sobre nós mesmos, sobre o nosso propósito e sobre o nosso caminho. Sem o foco, desperdiçamos mais energia e o que realmente pretendemos para as nossas vidas passa-nos ao lado, deixando-nos ainda mais frustrados e desgastados. No entanto, foco pede também emoção, pede que o coração fale, que nos mostre o caminho, que nos guie. É através das nossas emoções, do nosso coração, que a vontade de, verdadeiramente, viver, pode alimentar-nos, enriquecer-nos e recarregar-nos, conferindo-nos a capacidade de olharmos para nós mesmos em qualquer momento das nossas vidas, até mesmo nos mais conturbados e difíceis. O segredo é apenas um, aquele que durante tantos meses nos foi, consecutivamente, dito, amarmo-nos a nós mesmos.
Esta semana, em férias ou em trabalho, sem nenhuma pressão, precisamos de focar-nos em nós mesmos e definirmo-nos como a prioridade absoluta das nossas vidas. É preciso compreender que, se nós não estivermos bem, não podemos ajudar seja quem for, não podemos dar de nós, pois só podemos oferecer aquilo que temos, nunca o que nos faz falta. Aproveitar o momento que agora nos é oferecido é olharmos para o centro de nós com o olhar do nosso coração, com um amor profundo por quem somos, pelo nosso caminho, assim como por todos os desafios e dificuldades que passámos e ainda passaremos. Só dessa forma podemos transformar o nosso mundo, modificá-lo, e, dessa forma, integrando cada passo do nosso caminho, ter a capacidade de nos reequilibrar-nos e subir mais um degrau da nossa caminhada. Nestes tempos mais calmos, a grande vantagem é que podemos fazer tudo isto com um extra, o do sol que nos alimenta e nos dá vida, mas até para podermos aproveitar esse sol, com tudo o que ele tem para nos dar, temos de nos permitir, verdadeiramente, viver.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos