Em todos os caminhos que percorremos, há um tempo para avançar e outro para parar e reflectir, para repensar alguns pormenores da viajem, o itinerário, mas também para olhar para o caminho percorrido e integrar a informação obtida. Só quando somos capazes de fazer ambos é que, verdadeiramente, avançamos. No entanto, muitos de nós, numa ânsia de chegar a um lado qualquer que, tantas vezes nem sabe bem qual é, olhamos mais para fora, vemos um suposto objectivo e, simplesmente, não paramos por um momento, esquecendo que o importante não é chegar, não é atingir algo, mas sim cada passo que damos. Quando estamos em constante movimento não vemos o óbvio, não integramos o mais importante do caminho, o mundo que nos é apresentado, os sinais que nos são dados, que nos enriquecem, que nos acrescentam e nos amplificam em quem somos.
Os tempos que vivemos nas últimas semanas pediram-nos para parar e, agora, durante mais alguns dias, tudo o que trabalhámos dentro de nós, se nos demos tempo para ver o que a viajem pela vida nos tem trazido, tem a possibilidade de vir ao de cima, de se manifestar, de se concretizar. Pelos céus, num evento não tão raro como parece, mas com um significado importante, os planetas estão no seu movimento directo, sem nos pedirem trabalho interior, possibilitando-nos de dar passos concretos e visíveis, solicitando-nos que tragamos em nós as vontades que vivem na nossa consciência, baseadas em tudo o que aprendemos com os tempos que temos vivido. Para tal, também precisamos de criar uma nova visão sobre nós mesmos.
O mundo que vivemos parece virado ao contrário e muitos dizem que são tempos sombrios e feios. Em todo o lado, por todas as áreas, incluindo as, chamadas, espirituais, muitos transmitem-nos essa ideia, quase fatalista, que nos encaminhamos para um abismo qualquer. Verdade é que vivemos tempos desafiadores, difíceis em muitos momentos, que os caminhos que temos percorrido, muitas vezes, revelam o pior do ser humano, mas, para mim, o tempo que vivemos é único, especial, singular e transformador, cheio de possibilidades, de coisas maravilhosas que acontecem todos os dias, que também precisamos de aprender a trazer nos nossos corações.
O mundo que cada um de nós vê é o reflexo da visão que tem sobre si mesmo, do que acredita sobre si, do que constrói em si, das sementes que, em cada dia, planta no terreno no seu coração. Quando não vemos em nós a Luz que nos habita, não somos capazes de ver também a Luz que nos rodeia, nas coisas mais simples, mas também nas mais complexas, não temos a capacidade de ver a beleza de um olhar de uma criança, de sentir a pureza do seu abraço, do amor que recebemos de um idoso em solidão quando lhe damos a mão, da gratidão de alguém que passa fome e frio quando lhe damos um pouco do que temos.
O tempo que vivemos é especial, pois ele está a ensinar-nos, da forma como o ser humano teima em aprender, na base da dor e do sofrimento, a voltar a valorizar a vida, a voltar a saber viver. Este é o tempo de abrir as portas do nosso coração e deixar a nossa Luz mostrar-se, pois é ela que ilumina o caminho no meio da tempestade, que nos mostra que precisamos de saber deixar a vida levar-nos quando os tempos são mais difíceis, sob pena de nos deixarmos afundar nas águas dos problemas, daqueles que, tantas vezes, não são os nossos, mas que tão facilmente os assumimos. É na Luz que nos habita que nos transformamos e é também nela que o mundo que nos rodeia se pode modificar.
Leonardo Mansinhos