Uma vida na Terra é um enorme desafio para qualquer um de nós e acredito que qualquer uma das almas hoje encarnada é profundamente corajosa para viver os tempos que estamos a viver e, de alguma forma, fazer as transformações que eles nos pedem. No entanto, este é um enorme desafio, nomeadamente pelo ajustar da infinitude e leveza do espírito à tão forte e pesada densidade terrena, que nos leva a desenvolver características muito intensas, que se tornam obstáculos e barreiras à nossa própria evolução através do veículo terreno que é o corpo.
Um dos nossos maiores desafios é ultrapassar os mecanismos de controlo, verdadeiros vícios que despoletamos pela densidade terrena e que fazem parte da grande jornada que viemos aqui viver. Nenhum de nós está isento desses mecanismos, pelo contrário, sejam derivados da necessidade de estabilidade, das carências, dos medos, das dúvidas, da necessidade de compensação emocional ou mental, todos somos colocados frente a frente com os nossos ímpetos de controlo, alguns deles tão naturais e inconscientes que nem sequer nos apercebemos que os estamos a fazer.
Quando o Espírito se torna matéria, cria um conjunto de registos que são necessários para a vivência terrena, guardando-nos no que chamamos de Alma. É a Alma que se instala no corpo, o veículo que nos permitirá viajar pelo nosso propósito, mas que necessita de um mecanismo de suporte e sobrevivência, algo que chamamos de ego. Contudo, a vivência terrena é dura e solicita-nos, constantemente, coisas que estão ligadas à própria matéria. Com um crescimento da humanidade baseado nas questões materiais e no poder, o ego assume novas funções e começa a tornar-se mais forte que a Alma que nos habita e que, ela sim, tem a consciência total do caminho a ser percorrido.
A Alma sabe, naturalmente, que o caminho é a transcendência, a libertação da matéria, o crescimento pelo desapego, mas o vício da matéria faz o ego crescer, ganhar força e poder, desenvolver fortes necessidades de controlo, com um simples e perfeitamente natural propósito: sobrevivência. Invariavelmente, a própria sobrevivência torna-se um vício e o controlo manifesta-se em todos os contornos das nossas vidas, sob as mais diversas pretensões, assumindo um natural papel, sobrepondo-se ao nosso propósito, bloqueando-nos. Quando pensamos desta forma, compreendemos então que, na verdade, somos nós mesmos que nos impedimos de avançar, mas que esse impedimento, ou melhor, o seu ultrapassar, faz parte da grande evolução que aqui viemos fazer.
Controlar é impedir o fluir natural da vida, das situações, a manifestação plena de cada vivência. Controlar é viver num constante jogo de xadrez, colocando as peças no local que achamos que é o correcto, prevendo jogadas, vivendo em função de um futuro que não sabemos sequer se irá acontecer. Quando controlamos, não vivemos, passamos o tempo nesse processo, pois achamos que, se o largarmos, nem que seja por um segundo, tudo vai correr mal. Vivemos, assim, presos no futuro, e, invariavelmente também, agarrados ao passado, pois a sua origem está aí, no que correu mal, no que não foi como achávamos que tinha de ser e no medo que isso despoletou.
É o medo o alimento do controlo, e medo é ausência de amor. Só controlamos porque não nos amamos em pleno, porque não nos entregamos a algo ou a alguém sem pensar no que poderá ser e surgir, com a consciência de que apenas temos de ser nós mesmos em cada momento, vivendo-o, saboreando o néctar de cada segundo, compreendendo que tudo o que tem um início, tem também um fim, mas que o que importa é a forma como percorremos esse caminho. Controlar algo ou alguém é reflectir sobre isso uma ausência de amor, aquele que não conseguimos viver em nós mesmos, de que não nos sentimos merecedores, orientando-nos para a vivência duma suposta perfeição.
Quando começamos a largar o controlo temos a mesma vivência do largar um vício, a ansiedade do início, as provações, mas ao fim de algum tempo começamos a ter os efeitos, a calma que transmite, levando-nos até ao ponto de olharmos para trás e pensarmos como conseguíamos nós viver daquela forma. No entanto, largar um mecanismo de controlo não é como largar o tabaco ou algo semelhante (ainda que também esse tipo de vícios esteja aqui relacionado), pois implica um maior e mais profundo olhar para dentro de nós, compreender a origem, mas também a reflexão desses processos no mundo que nos rodeia, nas pessoas às quais se refere, assim como em nós mesmos.
Tomar consciência dos nossos mecanismos de controlos é, mais do que outra coisa qualquer, algo divino e não pode ser vivido com culpa, dor ou sofrimento, mas sim com a abertura de espírito e de coração, pois é, na verdade, um enorme processo de cura sublime que necessitamos de viver, que necessita da nossa entrega, da nossa força, da nossa determinação, mas, acima de tudo, de um enorme amor. Essa é uma das grandes aprendizagens que as próximas semanas nos irão trazer, com Júpiter no seu movimento retrógrado e um eclipse da Lua já no próximo dia 11, pedindo-nos para trabalhar as nossas questões, para olharmos para nós e nos entregarmos à visão mais profunda de nós mesmos, pois só assim nos permitiremos libertar e transformar.
Leonardo Mansinhos