Estes últimos dias, nomeadamente com a entrada de Vénus no seu movimento retrógrado, têm-nos trazido um ambiente um pouco intenso, desafiador, mas ao mesmo tempo muito sublime, capaz das coisas mais irritantes, mas também das mais doces, profundas e belas. Assim é Vénus, bela, sedutora, doce, mas também caprichosa e avassaladora. Ao estarmos a viver o seu movimento retrógrado, Vénus remete-nos para uma vivência ainda mais interior das nossas emoções, de como nos sentimos na nossa vida, nos nossos ritmos, se nos trazem ainda felicidade, harmonia e segurança ou se, pelo contrário, nos pedem mudança e transformação.
É neste movimento energético que uma singela reflexão chegou-me e fez-me questionar se as emoções não serão, na verdade, ainda que não tenhamos de tal verdade consciência, o maior bem que qualquer um de nós possui. Tal se justifica pelo simples facto de tanto as protegermos, de não as mostrarmos ou de termos tanta dificuldade em revelar e iluminar o que vai dentro do nosso coração. Como um cofre onde guardamos algo precioso, protegido por códigos e sistemas de segurança, colocamos as nossas emoções bem dentro de nós, fechamo-las e não permitimos que a elas qualquer um tenha acesso. No fundo, também nada de mal há nisso.
No entanto, fecharmo-nos nas nossas emoções, reservarmo-nos e protegermo-nos torna-se uma das mais resistentes fortalezas que construímos, reforçada por tudo o que o nosso lado mental vai absorvendo ao longo do tempo, por todas as coisas que vivemos, por tudo o que nos é dito e feito. Com o tempo, construímos uma fortaleza tão gigantesca e resistente que nem nós conseguimos de lá sair, mesmo quando tomamos a consciência que precisamos de nos libertar dela.
O tempo, eterno e grande mestre, auxilia-nos em tudo o que pretendermos construir. Ainda que ele nos alerte para os perigos, mostrando-nos sinais e dando-nos dicas preciosas, a verdade é que ele nada pode fazer quando a escolha da construção das nossas vidas está apenas nas nossas mãos. Então, o tempo, esse sábio mestre, faz o que sabe de melhor, regista tudo, guarda, arquiva e espera pacientemente pelo momento em que decidimos resgatarmo-nos de nós mesmos. Aí, as máscaras, aquelas que referi na minha última reflexão, são obrigadas a cair, a serem retiradas, e a revelar o que guardámos por tanto tempo, essas mesmas emoções.
Viver as emoções é, aos olhos duma sociedade mental, cartesiana e materialista, uma fragilidade impensável de ser vivida, uma demonstração de fraqueza que é aproveitada por tudo e por todos. Ainda que tenhamos na nossa natureza a vivência dessas mesmas emoções, o mundo ensina-nos que não as podemos mostrar, não as podemos revelar, não podemos, na verdade, ser nós mesmos. O resultado é o que sabemos e vemos, uma descompensação profunda que nos leva, arriscaria dizer, a todos os grandes males que o mundo conhece.
Viver as emoções não é o mesmo que mostrá-las, é, na verdade, aceitá-las, senti-las, permiti-las preencher os nossos poros e reger os nossos caminhos. Quando as fechamos, fechamos a nossa fonte profunda da nossa e passamos, apenas a existir. Existir não é viver, é simplesmente passear por um local feito e desenvolvido para a nossa evolução, para a nossa ascensão, para uma reaproximação e uma reconexão à energia da Fonte, à energia do Pai. No fundo, viver é sentir em nós a energia do Amor, aquela que, como tantas vezes digo, é a energia que tudo criou e tudo cria em cada instante neste Universo.
Leonardo Mansinhos