No percurso das nossas vidas encontramos muitas coisas, com as mais diferentes formas e cores. Como um caminho que se desenha, encontramos a terra que pisamos, as pequenas flores que nos rodeiam, árvores frondosas que nos dão sombra, mas também as pedras, das mais pequeninas às maiores, umas que dão forma ao caminho, outras que estão lá bem no meio. O caminho por vezes é a descer, outras vezes é plano e outras, ainda, é a subir. Contudo, uma certeza, o caminho leva-nos a algum lado, ainda que, tantas vezes, não saibamos minimamente para onde. Acredito, na verdade, que o mais importante não é o destino, mas sim o caminho que se percorre, que esse mesmo destino se define a cada passo que damos, a cada escolha que fazemos, a cada desafio que nos é colocado.
O caminho traz-nos pedras, subidas, degraus, obstáculos e desafios. Às vezes traz-nos mais, outras dá-nos uma folga e permite-nos observar as flores sem mais preocupações. No entanto, no caminho que é a vida, são as pedras, as maiores e mais duras, que nos mostram quem somos neste percurso, que revelam a nossa determinação e a nossa força, a vontade que temos de viver, de elevarmos o nosso ser e descobrirmos a nossa essência. São os obstáculos e as dificuldades que realmente nos fazem crescer, ainda que sejam dolorosos, que nos fazem rasgar as nossas barreiras e chegar mais longe.
No fundo, um obstáculo é uma barreira e, como tal, ele representa um limite do nosso ser que, na nossa jornada, atingimos. Foi o trabalho sobre nós mesmos, sobre quem somos e quem escolhemos ser, a cada momento, em cada situação, que nos traz a mais um limite, a mais um final de um estágio. Ainda que haja barreiras e limites mais suaves, mais facilmente ultrapassáveis, há outros que são grandes desafiadores, que são grandes pedras que temos, se assim quisermos e assim nos propusermos, de ultrapassar, de forma a continuar o caminho, a ver o que o outro lado nos reserva.
O tempo e a vida mostram-nos que são os grandes obstáculos, os mais duros e difíceis, os que mais nos fazem crescer. Essa é uma regra simples e básica deste estágio terreno a que nos propusemos. São os grandes degraus que nos fazem ir mais longe, é um facto, mas outro facto é que, para os podermos subir precisamos de compreender o que nos levou até lá, integrar todo o conhecimento e elevar a nossa consciência, reequacionar alguns objectivos e alguns propósitos, rever valores e visões, reajustar a nossa bússola e, dessa forma, descodificar melhor o mapa do nosso caminho.
Quando enfrentamos um obstáculo, um desafio que nos é colocado, somos obrigados a trazer, do mais profundo do nosso ser, a nossa força, a nossa vontade e determinação. Nesse momento, se assim quisermos, compreendemos que dentro de nós não existe mais aquele ser frágil e pequenino que achámos ser anteriormente, que, na verdade, temos em nós tudo aquilo que necessitamos para cumprir o desígnio que escolhemos, pois percebemos também que, como a lagarta que cria um casulo para que nele possa transformar-se em borboleta, rasgando-o quando o processo está concluído e voando para cumprir o caminho que escolheu, todos os obstáculos que nos são colocados são o casulo que nós, ao longo do tempo, com as nossas escolhas e passos dados, construímos para que nos pudéssemos transformar e evoluir.
O enorme e profundo trabalho que temos a fazer em tudo isto é a aceitação plena do processo, a compreensão e aceitação visceral que os limites que nos propomos ultrapassar no percurso da nossa vida foram as barreiras que nós próprios construímos, umas por necessidade, outras por escolha, mas todas elas importantes. Compreender a sua importância e aceitar a bênção do processo que elas nos colocam é amplificar o nosso livre-arbítrio e assumir a verdadeira responsabilidade pelo nosso caminho, é amar o casulo que criámos, mas que sabemos ter que largar, que rasgar e deixar para trás. No fundo, na vivência dos nossos sonhos e projectos, ultrapassar os nossos limites é desapegarmo-nos do que achávamos certo, válido e perpétuo num qualquer momento da nossa vida, abraçar o desafio de nos vulnerabilizarmos, de olharmos o nosso lado mais sombrio e doloroso, rasgarmos o véu do nosso ser e, com isso, ascendermos a beleza da nossa Luz.
Leonardo Mansinhos