Ontem, dia 31 de Janeiro, vivemos um Eclipse Lunar Total no Eixo Leão-Aquário, o primeiro deste ano, que continua o trabalho de consciência sobre este eixo energético. Um eclipse é sempre um momento mágico e profundo, de cariz muito misterioso, mas belíssimo. Este eclipse que vivemos foi visualmente fantástico e único, trazendo-nos um conjunto de outras características que andaram por estes dias na Internet. Mais do que um simples momento de alinhamento astronómico, energeticamente é um acontecimento poderoso e transformador, nomeadamente por ser lunar e ter a Lua em próxima conjunção ao Nodo Norte, o que carregou e carregará estes próximos meses de um enorme trabalho interior.
Quando Sol, Lua e Terra se alinham de forma tão precisa, um astro esconde o outro, criando um efeito simbólico e carregando-nos com a sua energia, que nos influencia por meses. Num eclipse Lunar, a Luz, símbolo e manifestação do nosso inconsciente, da nossa profundidade sensitiva, é tapada pelo Sol, símbolo do nosso consciente, da nossa identidade. Então, nesse momento, o nosso inconsciente é iluminado pela Luz do Sol, as nossas sombras e medos, os nossos hábitos e padrões, são reveladas pela possibilidade de tomada de consciência, e cada um de nós tem duas hipóteses, eu vira a cara e enfia a cabeça na areia, ou olha de frente e permite-se viver o que a Universo disponibiliza para cada um de nós.
O Eixo Leão-Aquário é um eixo de ego e identidade, que nos mostra que precisamos de trabalhar quem somos para que possamos projectar esse mesmo conhecimento de nós mesmos com segurança e estabilidade, de forma a ultrapassar os limites da personalidade e da identidade, abraçando a verdadeira individualidade, a manifestação da Centelha Divina. Contudo, só o podemos fazer se ela for activada, revelada, acesa e elevada em nós, o profundo, majestoso e divino trabalho de Leão, de forma a que cada um possa ser um farol neste mundo, na sua unicidade, o trabalho humano e revelador de Aquário. Se todos o fizermos, no tempo certo e na hora exacta, o mundo ilumina-se e as sombras se dissipam, integradas na Luz que as rodeia. Ilusão, idealismo, inovação? Talvez, mas esse é o grande trabalho de Aquário, a projecção e a criação de um mundo melhor, mais humano.
O trabalho de evolução deste momento, nomeadamente nos próximos meses, não é o da expansão ou da revelação. Pelo contrário, é o trabalho de continuarmos, agora com ainda mais consciência e responsabilidade, a mergulhar dentro de nós, construindo o casulo e nos vulnerabilizando da forma mais bela, a da transformação. Quando nos permitimos transformar, em tudo aquilo que se evidencia como necessário de ser mexido e mudado, tornamo-nos alquimistas do nosso ser, moldando a matéria e extraindo dela o que nela existe de mais sublime.
Transformar é, muitas vezes, morrer e renascer, como a Lua que, por momentos, eclipsada pelo Sol, morre, desaparece, esconde-se, para poder, depois, ressurgir, revelando-se a cada segundo por detrás daquele que foi o seu casulo, o Sol. Então, podemos compreender que tudo o que não nos faz mais falta, que insistimos em guardar, em alimentar com isso o nosso ego, as carências, dependências e padrões, os hábitos e os sofrimentos, só podem ser transformados em nós através da sua iluminação e da tomada de consciência profunda dos nossos processos, confiando e entregando-nos, aprendendo e compreendo que, ainda que por vezes pareça o contrário, a vida, o universo, nós mesmos, no nosso trabalho mais profundo e inconsciente, só destruímos o que não está verdadeiramente bem, o que precisa de cair, partir-se e estilhaçar-se, de forma a poder abrir espaço e caminho para algo de novo.
O que agora nos é pedido, de forma tão intensa, como um trabalho para estes próximos meses, é que nos permitamos sentir, sem medo, sem dúvida, sem mais bloqueios, ainda que esse sentir seja doloroso, nos traga algum sofrimento, ou talvez até muito, para que nos possamos ver sem aquelas camadas que nos impusemos ao longo da nossa vida, como defesas do nosso ego, como formas de sobrevivência. Quando nos permitimos sentir, quando nos permitimos ser permeáveis ao mundo que nos rodeia, às emoções que nos envolvem, ao que a vida nos dá, celebramos a transformação do nosso ser, pois somos como a lagarta que, dentro do casulo, apenas se foca no seu processo de se tornar num dos mais belos e especiais seres desta Terra, não se preocupando com os predadores, não se impedindo de viver o seu processo com medo que possa perder a sua vida. Ela sabe, em cada momento, que a transformação é o seu caminho, que a borboleta é a essência que vive dentro de si e que precisa de ser atingida, como a pedra trabalhada pelo escultor, que se torna na mais bela obra-prima.
Leonardo Mansinhos