Nas últimas semanas, e a energia do signo de Peixes é muito propícia a este tipo de reflexão, tem estado em mim muito presente, não só nos meus pensamentos, como também através do mundo que me rodeia, o tema do legado, do que deixamos, verdadeiramente, e do que ele representa no nosso percurso. Os últimos dias, os últimos acontecimentos, têm potenciado ainda mais este pensamento e levado a pensar no que é, realmente, o legado que deixamos.
Ainda que vivamos num mundo material, a verdade é que o que deixamos pouco ou nada tem dessa natureza. Ainda que deixemos bens de qualquer tipo ou natureza, ou até mesmo dinheiro, tudo se gasta, tudo desaparece, tudo se liquida, demonstrando-nos que o seu verdadeiro valor é quase nulo. O que realmente fica de nós é tão imaterial, tão incorpóreo, que dificilmente dinheiro algum do mundo consegue equiparar-se, mas cabe-nos a nós, a cada um de nós, compreender que legado é esse que está a deixar.
Como uma semente que se planta num vaso, que alimentamos e que, ao longo do tempo, cresce, tornando-se uma árvore, que dará folhas, flores e frutos, o nosso legando, a herança que deixamos é criada por nós com tempo e dedicação, com muito amor e carinho, numa profunda e constante dádiva. À medida que o tempo passa, esse legado vai crescendo, se nele nos colocarmos, transformando-se depois numa herança que deixamos aos que ficam depois de nós. Ao mesmo tempo, cabe a cada um de nós compreender se essa árvore, plantada num vaso, ainda lá pertence ou se, na verdade, precisa de ser colocada num campo para que possa crescer mais e dar mais e melhores frutos, gerar filhos e ser, também ela, potenciadora de outros legados.
O que resta de cada um de nós é o amor que conseguimos plantar no coração dos que nos rodeiam, dos que convivem connosco, assim como o amor que conseguimos partilhar, em dádiva, em dedicação. O que resta de cada um de nós e que vale a pena, é a memória criada, a lembrança que fica, a vida tocada, o sorriso dado, o conhecimento partilhado, e é isso que, verdadeiramente, importa. Esse é o melhor legado que podemos deixar, a melhor herança que podemos receber.
Acredito que a nossa grande tarefa comum, aqui na Terra, é partilhar quem somos com o Todo que nos rodeia, darmo-nos incessantemente, incondicional, mas da forma correcta, preservando-nos, respeitando-nos, colocando os devidos limites que se impõem para que possamos continuar a crescer e sermos nós mesmos. No fundo, é compreendermos que somos todos árvores que podem, numa enorme floresta, comunicar umas com as outras, de forma a compreenderem-se, ligarem-se, curarem-se, deixarem grandes legados, eternos, profundos.
Quando assim o fazemos, o nosso legado é de amor, é de crescimento e prosperidade, é o mesmo legado que os nossos bisavós, trisavós e todos os que vieram antes deles, em algum momento, deixaram, que levaram até à nossa existência. Por outro lado, quando fomentamos a guerra, a luta pelo poder, quando preferimos preocupar-nos com o que o outro tem, com o que o outro faz, quando preferimos tirar a vida de inocentes, quando com isso compactuamos, o nosso legado é dor, é tristeza, é miséria, é mais guerra, mais fome, mais sofrimento. A energia é a mesma, tudo depende de como a alimentamos, e é essa a nossa responsabilidade, em cada dia das nossas vidas, pois nas nossas mãos, em todos os momentos, há uma herança que se cria, que se constrói, que se dá, mas também que se recebe.
Leonardo Mansinhos