Tanto corremos que nos esquecemos de viver. O tempo escorre-nos pelos dedos e, nem que juntemos as mãos, conseguimos agarrar o tempo que não vivemos. Olhamos para o lado, vemos quem envelheceu e pensamos como envelhecemos também. Assustamo-nos, se contamos décadas de acontecimentos que já sucederam, e pasmamo-nos, quando num dia em trezentos e sessenta e cinco dias por ano, nos deleitamos num simples café de esplanada, a sentir o sol e o vento e, perguntamo-nos, porque não fazemos isto mais vezes?
Verdade, o tempo voa. Sentimo-nos ansiosos, porque os problemas não acabam e inesperadamente nos batem à porta e juntam-se a outros problemas, que ainda nem sabíamos como resolver. Percebemos que as tempestades não terminam, sucedem-se uma após a outra e, se bem utilizadas, podem ser impulsionadoras de crescimento. Por outro lado, podem ser gatilhos de crises de ansiedade, desespero, noites mal dormidas e becos que não parecem ter saída. Os monstros da nossa infância cresceram connosco e saíram dos armários e do escuro e tomaram outras formas.
Existem muitas ferramentas à nossa disposição para nos reencontrarmos, para nos tornarmos pessoas melhores. Procuramo-las na maior parte das vezes, porque queremos encontrar uma forma da vida que seja um pouco mais fluída, mais fácil. Para sermos mais felizes.
Todas elas, no fundo, levam-nos a uma só conclusão. Estupidamente, a única forma de conseguirmos viver, de facto usufruirmos da vida e conseguirmos encontrar soluções para os problemas é simplesmente parar. É aí que o minimalismo entra. Aquele movimento que, entre tantas outras coisas, nos fala de destralharmos a casa, de sairmos do rebanho e pensarmos, realmente, o que nos faz falta ter ou comprar, simplificar, de que no fundo menos é sempre mais.
Só conseguimos parar, de facto, quando conseguimos seleccionar. De nada adianta querer simplificar, se o que nos rodeia é a confusão. Não interessa se começamos por dentro ou por fora, talvez até seja um processo simultâneo. E de nada adianta escolher e deitar fora, se depois de destralharmos as nossas casas continuamos a comprar, adquirir e acumular para compensar vazios.
Ao seleccionarmos o que não nos faz falta, percebermos verdadeiramente o que está a mais. Principalmente destralhamos o que não nos faz falta na alma, nos nossos sentimentos, os nossos objectivos e, por fim, as nossas preocupações.
O minimalismo, a arte de ser simples, serve entre tantas outras coisas, para chegarmos ao âmago, à essência de quem somos, ao ser único que cada um de nós é e que tanta falta faz ao mundo.
Não é fácil, mas há que começar por algum lado. Se fizer sentido tirarmos para fora todas as roupas e tralha dos armários e escolhermos o que nos faz ou não falta, então, que se comece por aí. Se for mais fácil fazer uma lista do que queremos alcançar e atrevermo-nos a sonhar e escolher um ou dois sonhos para começar, então, que se avance. É preciso é não paralisar. Para nos darmos ao luxo de parar. E começar a viver. Mesmo em dias de tempestade.