Ser, na imensidão de existir, passa por desafiar o passado e a vida. Passa por olhar para o mundo com um sorriso eterno, com uma despreocupação (aparente e sublime) pelo acaso, pela sorte, pelo azar – pelo que não se sabe, pelo que ainda está por vir.
A descoberta é o momento do nascimento da obra-prima e das necessidades da natureza. Quando percebemos que nascemos com o propósito fundamental de sonhar mais alto, de sentir a vida, de espalhar magia, coerência, ambição e autenticidade. A mágoa, presa à permanência, instabilidade e dinamismo da realidade, sobressai nas profundezas de uma incompreensão (absoluta, mas discutível) do universo, do nosso universo de interioridade.
Vivemos inebriados. Ofuscados. Desorientados. Dormentes. Uma dormência que nos acompanhe ao longo do dia-a-dia, da rotina imparável que vivemos. E é por isso que, quando nos permitimos sentir, choramos, sofremos, gritamos, não sabemos lidar com o que se passa dentro de nós. É difícil lidar com algo que passamos o dia a tentar negar. E é, normalmente, à noite que tudo nos assombra. O medo, a saudade, o amor, a ansiedade, o nervosismo, a tristeza.
Tudo nos assombra à noite, antes de dormir, quando deitamos a cabeça na almofada e não pensamos em trabalho, em aulas, em estudos, em contas para pagar ou em problemas que tentaremos resolver amanhã, sempre amanhã. É quando temos a mente vazia de preocupações que tudo nos magoa, tudo nos faz sentir, tudo nos causa tristeza. Tentamos desviar o pensamento, mas não conseguimos. E pensamos naquele amigo que perdemos, naquele amor que já não o é, naquele sonho que não conseguimos realizar.
Eis que a metáfora da polaridade entre permanência e mudança chega, com a magia de nos fazer elevar a um propósito fundamental mais risonho e porventura realista. É no realismo, no pragmatismo, no saber ver e olhar o mundo em redor, que percebemos que a gramática formal da vida se torna muito intuitiva e elementar. Temos que combater a ilusão dos vários planos do mundo, que se fundem e formam um plano único.
Viver é produzir vestígios. Vestígios de sentimentos, emoções, vidas, personalidades, sonhos, anseios, choros, ou alegrias infinitas. É o querer que nos torna autênticos em toda a nossa dinâmica e plenitude, o querer ser algo que nunca ninguém foi, o acrescentar algo novo ao universo, algo que ninguém, jamais, tenha feito, ou sido. Não valia a pena existir, se não fosse para sonhar com um amanhã infinito. Em ti, começa tudo – e tudo acabará em ti.