Entramos numa semana muito forte, que nos irá preparar para um dos pontos astrológicos mais intensos do ano, dentro de alguns dias. Vénus entrou em movimento retrógrado no sábado e Úrano seguiu-lhe o mesmo caminho ontem, juntando-se aos outros quatro planetas nesse mesmo movimento. O tempo é de profunda interiorização e de compreensão das nossas questões, definição do nosso caminho e aceitação dos passos que temos de dar para nos podermos encontrar. Uma semana com esta energia não podia ter como Conexão outra carta que não uma das mais temidas do Tarot, a carta do Diabo.
Quando nos propomos a abraçar a nossa caminhada e o nosso propósito de vida, somos levados a enfrentar o nosso lado mais sombrio, a nossa zona de conforto, os nossos vícios e aquelas questões que constituem as nossas prisões interiores. Encarar essa parte de nós é o que nos permite compreender e trabalhar o nosso verdadeiro poder e escolher a forma como o vamos utilizar. A vivência humana, terrena, é uma vivência de manifestação, onde são as emoções que nos regem, moldadas pelo corpo dos nossos pensamentos. Quando existem desequilíbrios e a mente se sobrepõe à vivência plena das nossas emoções, são criadas em nós muralhas, cárceres, prisões que, tantas vezes, são muito difíceis de quebrar (até porque isso só é possível de fazer de dentro para fora) e que facilmente se transportam para as “coisas do mundo”, os apegos materiais, impedindo-nos de avançar.
O Diabo é uma das mais difíceis cartas em termos de desafio, precisamente porque é ela quem nos confronta com esse lado mais denso e profundo da nossa dualidade. Sentimo-nos presos, impedidos de avançar. Parece que a vida, para onde quer que nos viremos, não tem soluções, tão simplesmente porque não deixamos de pensar naquilo que é a condição terrena, social e material do desafio da vivência neste planeta. Quantas vezes nos impedimos de avançar para um sonho, para algo que, sabemos, vai-nos fazer mais felizes e mais realizados, pelo medo de falhar, pelo medo de perder, pelo medo de sermos julgados e castigados? Quantas vezes não dizemos um não, não fazemos o que sabemos ser o certo, com medo de ficar sem o nosso relacionamento, sem o trabalho e sem rendimento? Somos, ao mesmo tempo, aliciados, tentados e amarrados pelas coisas materiais, pelas ilusões do mundo terreno, pelas posses, para de seguida sermos manipulados pelo medo de não as termos mais, de as perdermos, de nos serem tiradas. Quando cedemos a isso, estamos dispostos a tudo para não perder esse conforto, essas ilusões de felicidade, e passamos a usar o nosso poder para controlar, manipular, de forma negativa e apegada, sem qualquer luz.
O grande propósito desta carta é compreendermos que existe em nós um enorme poder, que pode e deve ser manifestado, prioritariamente, através da nossa própria libertação. Se atentarmos à própria imagem da carta vamos compreender que as amarras que prendem os humanos são tão largas que, facilmente, podem ser retiradas, pelo que a própria prisão não deixa de ser uma ilusão. O Diabo lembra-nos que o nosso poder só pode ser manifestado quando eu me liberto da tridimensionalidade que me rodeia, sem nunca deixar de perceber que aceitei uma vivência e um desafio na Terra, com as suas condicionantes. A chave para a libertação é a escolha de viver as nossas emoções e de as equilibrar, compreender que elas não estão desgarradas nem têm de ser vividas de forma extrema. O frágil equilíbrio da figura do Diabo em cima do paralelepípedo demonstra-nos a também tão grande fragilidade que é a vivência em função do materialismo, dos apegos, do controlo da mente, e que o grande equilíbrio se encontra quando nos libertamos e usamos a nossa própria luz para iluminar os espaços escuros do nosso Eu.
Nesta semana, neste momento, há uma escolha constante e profunda em todos nós, a escolha pelo nosso caminho, a aceitação dos passos que demos, independentemente do seu resultado, a libertação do nosso passado, que tantas vezes nos prende e nos condiciona, ainda que isso nos obrigue a rasgar padrões, a quebrar estruturas, a romper com as normas que nos impuseram e às quais nos habituámos. O assumir do nosso poder pessoal é também o reconhecer de tudo o que nos construiu e da valorização de quem somos, dos nossos passos, das nossas escolhas, dos nossos caminhos. Tudo o que vivemos é parte da construção do nosso Eu, renegar é não sabermos quem somos, mas carregar o peso constante, nomeadamente, daquelas que achamos que foram más escolhas e erros, e pelas quais nos culpamos, é viver no passado e nunca sermos aquilo que nos propusemos a ser, é nunca vivermos o nosso verdadeiro Eu.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos