A semana que agora se inicia traz-nos o final de mais um mês. O tempo continua num ritmo frenético, os dias passam sem que nos apercebamos e, num estalar de dedos, entramos nos últimos dias da primeira metade do ano. De certa forma, com o período de férias a aproximar-se, e com tantas discussões e problemas que nos rodeiam, para além de nas nossas próprias vidas, é tempo de nos reorganizarmos, de repensarmos alguns caminhos, mas, acima de tudo, de aceitar as nossas próprias escolhas e a responsabilidade que elas acarretam. Apenas dessa forma poderemos fazer as mudanças, as transformações, as reorientações que pretendemos para as nossas vidas. É essa a mensagem que A Justiça, tão importante carta dos Arcanos Maiores, nos traz como orientação para esta semana.
Embora este tenha sido um tópico importante durante este ano, o de assumir a responsabilidade por cada escolha que fazemos, pois apenas dessa forma poderemos mudar o nosso rumo, é preciso também compreender que essa atitude implica uma aceitação profunda do caminho da nossa vida. Por muito que queiramos mudar muitas coisas nas nossas vidas, a verdade é que todos temos, quer tenhamos ou não consciência dele, um propósito para as nossas vidas, e todo o caminho feito tem como direcção, ainda que não pareça, ele mesmo. Então, quando pretendemos mudar algo, quando procuramos a nossa própria felicidade, o primeiro passo a dar é o da aceitação do que temos, pois esse primeiro degrau é a compreensão mágica e profunda de que tudo o que existe foi o resultado de escolhas e de processos que tínhamos de viver. No entanto, embora tenhamos vivido diversas coisas, algumas delas bem difíceis e duras, não significa que elas nos definam, que nos estruturem. Pelo contrário, tudo o que vivemos vai-nos moldando, vai-nos transformando, mas o simples acto de aceitar dá-nos a capacidade de medir e pesar tudo na medida correcta e, de coração aberto, tomar decisões que, efectivamente, nos levam para onde pretendemos ir.
A Justiça é uma carta poderosa, que nos traz um processo central no nosso caminho, o da compreensão, da aceitação e do equilíbrio. É nela que olhamos para trás e vemo-nos pelos olhos das nossas escolhas, propósito que nos pede um assumir de responsabilidade, uma libertação das culpas e a vivência de perdão nos nossos corações, não só para os outros, como para nós mesmos. É nela, também, que nos projectamos para o futuro, que compreendemos que, tal como fomos criadores de um caminho que está atrás de nós, também temos o poder de construir o caminho que à nossa frente se desenha, materializando-o através das nossas escolhas. Esta é a mais bela e profunda expressão do verdadeiro livre-arbítrio, aquele que conhecemos e compreendemos quando deixamos de ser a mente pequenina do dia-a-dia, presa nos problemas e nas condicionantes, e passamos a ser a Mente Maior, que comunica com o seu Eu Superior, que vive em harmonia. Procuramos, tantas vezes, a harmonia e o equilíbrio através das coisas exteriores, sem nunca perceber que ele nunca poderá existir enquanto dentro de nós não for plenamente vivido e entendido.
Esta semana, somos levados a reflectir sobre as nossas vidas e sobre o nosso caminho, sobre as nossas escolhas e a questionar, afinal, onde temos procurado o nosso bem-estar, o nosso equilíbrio, a nossa harmonia, a nossa vida. É desse processo profundo, que parece difícil, mas é de uma leveza extraordinária, que poderemos olhar para dentro do nosso coração e conhecer um pouco melhor o nosso propósito. Apenas dessa forma, também, conseguimos ter a capacidade de mudar o nosso próprio mundo, a nossa realidade, de construir defesas que não se transformam em barreiras, de levantar estandartes que se revelam lanternas e faróis para o nosso caminho. É assumindo o nosso caminho, a responsabilidade pelos nossos actos e escolhas, aceitando a vida que temos e que vivemos, mas sempre com a ambição e com a atitude de querer mais, de fazer mais, de transformarmo-nos e libertarmo-nos de tudo o que nos impede de viver em felicidade, que poderemos, verdadeiramente, sermos nós mesmos. É desta forma que, este momento em que vivemos, poderá revelar-se um ponto de charneira para as nossas vidas.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos