Muitas vezes, na nossa vida, temos ideias, projectos e sonhos, temos cadernos inteiros de coisas que gostaríamos de fazer, de conquistar, de desenvolver, mas, ainda assim, passam-se os dias e nada é feito. Invariavelmente, o tempo rouba-nos a energia e, quando olhamos, a vida ficou lá atrás e muitas das oportunidades escaparam-se pelos nossos dedos, como grãos de areia que agarramos na praia e vemos esvoaçar. Podemos dizer que é por medo, receio, dúvida ou dificuldade em sair da nossa zona de conforto, e assim o é, sem dúvida, mas há, no meio de tudo isto, um ponto em comum, a falta de visão de um caminho, a visão de um propósito, da nossa própria vida.
O medo, a dúvida, a zona de conforto, são apenas desafios, obstáculos a ultrapassar, degraus que nos ajudam a subir a grande escadaria da vida e atingir os patamares mais elevados. Não são os nossos medos o primordial bloqueador, mas sim o facto de não termos, muitas vezes, como foco principal olhar para nós e tentar compreender o nosso caminho. Ainda assim, muitos dirão que buscam conhecer-se, compreender o seu trilho, a sua missão, mas, por alguma razão, não conseguem perceber o que vêm cá fazer, qual o seu caminho. Na verdade, o que muitas vezes fazemos é tentar procurar lá longe um propósito, uma “grande” missão, e essa tentativa de visão é como um nevoeiro que nos é colocado e, na realidade, funciona mais como uma frustração do que, propriamente, como algo positivo e motivador. A razão é simples, é porque quanto mais tentamos ver longe, menos conseguimos ver, menos conseguimos entender.
A visão de um caminho não implica a compreensão de um propósito final de uma vida, de uma encarnação ou duma mera situação, implica ouvir o coração e saber o que me faz feliz, quem sou quando sou eu mesmo, quando me permito rasgar com as minhas próprias limitações e voar alto, permito-me ser a Luz da minha Centelha Divina. Quando tal acontece, não preciso de me fechar numa forma, num novo limite, pois quando busco o meu propósito, nada mais encontro do que isso, uma forma final, um objectivo. Não acredito, de todo, que esse é o caminho que devemos percorrer.
Na verdade, observemos a vida, a Natureza, as plantas, os animais e nós mesmos. Todos nascemos com uma forma que evolui consoante o caminho que estamos a percorrer. Quando esta forma perde o seu sentido, ela termina a sua função e transforma-se. Da mesma maneira, um propósito não tem uma forma final, à qual, tantas vezes, nos fechamos e nos limitamos, ele cresce, adapta-se, molda-se e transforma-se em cada momento, em cada vivência, em cada experiência, e a grande meta nada mais é do que nos libertarmos da limitação da matéria, da sua aprendizagem, e retornar à Luz, ao Todo, ao Pai.
Então, na verdade, a grande visão que podemos e devemos ter da nossa vida, do propósito que nos trouxe à Terra, é a expressão da nossa Luz, da nossa unicidade, de quem somos na nossa essência e de tudo o que podemos dar a este mundo que nos recebeu para que pudéssemos nele, e com ele, evoluir. Nesta perspectiva, cada projecto, ideia, cada esboço que temos guardado num caderno ou numa gaveta, pode-se materializar como uma parte de nós, uma expressão do nosso ser, como um degrau ou um patamar da escada da nossa vida, daqueles que intercalam com os degraus formados pelos obstáculos e desafios, que representam o bálsamo que nos aquieta o espírito após os momentos difíceis. Desta forma, somos mais do que nós mesmos, tornamo-nos no nosso propósito, no nosso próprio caminho, somos plenos.
Leonardo Mansinhos