Um dos momentos mais fortes e intensos do ano é, precisamente, a semana da Páscoa. Nos céus, a primeira Lua Cheia do Ano Astrológico, no signo de Balança, recorda-nos que só somos nós mesmos quando respeitamos e amamos o outro, o nosso semelhante, quando o aceitamos como ele é, que só assim podemos cumprir o nosso próprio Eu, o nosso propósito. Para tal, precisamos de nos confrontar com as nossas próprias limitações, com as nossas próprias barreiras, com as crenças que adquirimos ao longo da vida (e, às vezes, de tantas e tantas vidas), e termos a audácia, a vontade e a coragem de as suplantarmos.
Num momento também em que fortes planetas estão no seu movimento retrógrado, é tempo de mergulharmos em nós e fazermos um caminho de transformação, de revelação, de aceitação profunda do nosso próprio Ser, do espelho que em cada dia todos aqueles que nos rodeiam, conhecidos ou desconhecidos, nos oferecem como uma forma de desenvolvimento. Contudo, há algo que precisamos de compreender, de tomar consciência, que o caminho que trilhamos, o tal propósito de vida que todos nós procuramos cumprir, não tem qualquer sentido sem que, através dele, possamos marcar a diferença neste mundo, tocar um coração que seja, abrir um sorriso, acalentar uma alma.
Neste trilho que percorremos, a maior das limitações é a falta de fé que tantas vezes temos em nós mesmos, nas nossas capacidades, nos nossos potenciais. Outras vezes, ainda que digamos que acreditamos e que confiamos em nós, a verdade é que nos obrigamos a manter esse foco, mas, por dentro, o coração aperta e teme falhar. Fé, contudo, é a capacidade de continuar em frente, sabendo que aquele é o caminho, não por obstinação ou por orgulho, mas sim porque dentro do nosso coração há algo, uma paz, uma luz, uma certeza, que aqueles são os passos que precisamos de dar, ainda que não saibamos muito bem onde iremos chegar. É também não ter medo de cairmos, de nos esfolarmos, de nos magoarmos e doer, pois se isso acontecer, iremos continuar em frente, iremos persistir.
Persistir é, no fundo, compreender que o obstáculo que nos foi colocado é um degrau na escada da nossa evolução, é entender que não podemos ter medo de mostrar quem somos, de nos revelarmos, de transparecermos a nossa dor, mas com a consciência de que ela é um caminho, não um veículo, pois se a ela nos entregarmos, facilmente nos tornamos vítimas e nos deixamos levar pelo seu enredo. Persistir é permanecer em nós, na nossa Centelha Divina, pois sabemos que tudo tem um propósito, um foco, um sentido, que quando um de nós supera as suas próprias barreiras, os seus limites, eleva a sua vibração e envia subtilmente ao mundo inteiro uma mensagem: “é possível, persiste.”
A simbologia deste tempo que vivemos, da Páscoa, é precisamente esta. O Mestre, carregando a sua cruz até ao Gólgota, onde foi crucificado para cumprir o seu propósito, lançou ao mundo a mensagem do Amor, marcada por cada gota de sangue que derramou. Fê-lo por nós, sim, mas não para gratuitamente nos salvar, mas sim para nos mostrar que só o Amor salva, só o Amor permite superar os obstáculos, ultrapassar a morte, tocar corações, mudar vidas, transformar realidades. Aceitando a sua missão, Ele tocou os nossos corações, das mais variadas formas, sejamos ou não crentes ou religiosos, acreditemos ou não na história narrada, seja ela verdadeira ou um simples mito. Ele persistiu e cumpriu o seu propósito e, por isso, a sua mensagem tornou-se eterna. Na realidade, ela é eterna, passada até por outros grandes Mestres, mas cabe-nos a nós, a cada um de nós, torná-la verdadeira neste mundo que tanto sofre.
Boa Páscoa!
Leonardo Mansinhos