Quando começamos a mergulhar na descoberta de nós mesmos, seja numa via mais espiritual ou noutra qualquer, começamos a compreender que nada nas nossas vidas surge por acaso nem tem um papel secundário. Tudo faz parte de um caminho, onde cada acção leva a uma reacção, onde cada semente plantada tem o crescimento que a ela lhe proporcionarmos. Entendemos que tudo na vida tem um propósito, sabemo-lo na nossa mente, mas perante um desafio, uma situação que nos é colocada, a grande aprendizagem passa para o foro da consciência, onde somos confrontados com algo muito simples, a noção de que, ainda que tenhamos o conhecimento, o facto de sermos humanos leva-nos a sentir as situações e a despoletar os nossos instintos mais básicos, nomeadamente o medo.
No fundo, ainda que saibamos que aquela vivência, aquela situação, muitas vezes dolorosa e intensa, faz parte de um caminho, o grande desafio que nos é colocado é o de saber libertarmo-nos desse medo que ela acorda e aprender a, verdadeiramente, confiar, dando cada passo com a mesma determinação com que daríamos caso estivesse tudo, digamos, bem. Por muito conhecimento que tenhamos, por muito evoluídos que sejamos, por muito iluminados que possamos ser, a verdade é que essas situações que nos são colocadas no caminho são os degraus de evolução que num momento necessitamos de subir e, claro, elas não se referem ao que já aprendemos e integrámos, mas sim ao que profundamente precisamos de trabalhar.
Libertarmo-nos dos medos é rasgarmos o véu do drama, do receio e da construção de um cenário futurista dantesco. É compreendermos que o desafio que nos é colocado necessita de ser encarado com a nossa Alma, e ela não vive nem no passado nem no futuro, vive no hoje, no agora, construindo o caminho que foi delineado pelo espírito. Encarar um desafio com a Alma implica abrirmos o coração ao desafio e permitir à mente exprimir os medos e as dúvidas, de forma a que possa vê-los com toda a clareza e, dessa forma, compreender o que é real e o que é uma projecção de algo mais sedimentado no nosso ego, dramatizado e amplificado pelas nossas carências, pelas feridas que ainda precisamos de curar.
Quando encaramos cada vivência com a Alma, abrimos os olhos da mente e os do coração, criando uma visão profunda e total, amplificada e verdadeira. Assim, a Alma também se acalma e se aquieta perante a questão e recorda-se dum princípio fulcral num processo de transformação, que é preciso confiar no caminho, se cada passo nele dado foi de coração escolhido, mas se porventura assim não foi, também não é necessário desconfiar ou ter receio, mas sim tomar novas decisões, plantar novas sementes, ir para novas direcções.
Confiar é abraçar cada desafio com a Alma e aceitar, sem cegamente nos resignarmos, o que a vida nos dá, compreendendo o que ela quer que façamos com isso, o que é necessário aprender ou integrar. A resignação cega leva ao imobilismo e ao determinismo, dois factores que nos transformam em vítimas e que são autossabotagens do nosso ego ao nosso livre-arbítrio. Confiar é aceitar, sim, mas com a consciência que é necessário agir e que, se acaso não concordar com o caminho, há que fazer o necessário para mudar, não por revolta, mas sim por escolha profunda. É assim, confiando, que acalmamos os medos, apaziguamos o ego, damos força e conhecemos o nosso Eu, a nossa Essência, a nossa Centelha Divina, que somos quem, verdadeiramente, viemos ser.
Leonardo Mansinhos