Desde o princípio dos tempos que o homem vive uma luta interior, profunda e, muitas vezes, destruidora, entre a sua essência de amor, divina e misericordiosa, e uma necessidade de poder, de domínio e controlo. Encontramos esta dualidade em todas as filosofias e pensamentos, encontramo-la nos escritos antigos e, nomeadamente, no mundo que nos rodeia, quando não mesmo dentro de nós. Nos dias que vivemos, como noutros tempos em que este planeta viveu, mais uma vez, a necessidade de poder encarrila-nos para resultados desastrosos, destruidores e anuladores da nossa própria humanidade.
Os últimos dias, desbloqueados por este espaço entre eclipses (cujos resultados de transformação veremos dentro dos próximos meses), mostraram-nos como as ilusões da matéria, em associação com todo o medo que tem sido alimentado nestes anos que temos vivido, podem dar origem a manifestações destrutivas de um suposto poder. Pior, são justificadas por supostas hierarquias, por supostas palavras provindas de escritos sagrados, mas que, na verdade, são apenas o reflexo duma deturpação sombria que muitos de nós têm vindo a relembrar e informar nos últimos anos, a falta de amor, uma doença que prolifera pela inteira população deste planeta.
O Poder, na sua divina essência, é a capacidade de, em enorme consciência, fazer o que é o necessário para a manifestação do meu Eu, sendo co-criador da minha vida e da minha realidade. A enorme consciência que é pedida é a integração total e profunda da mente e do coração, nas suas dimensões terrenas e divinas, ou seja, a conexão entre a alma e o espírito que desperta a matéria para a Criação. Então, ao mesmo tempo que a mente religa-se e compreende, absorvendo a realidade descodificada pelos olhos da Luz, o coração recentra-se e interage em profunda comunhão e misericórdia com a realidade sentida pelos olhos do Amor.
Quando Luz e Amor se conectam e direccionam-se para uma consciência terrena, somos capazes de ver a beleza que existe para além da matéria, em nós e em todos os que nos rodeiam, capacitando-nos de amar o próximo, como nos amamos a nós mesmos da forma correcta, divina e, digamos, “perfeita”. Estas foram as palavras do Mestre, é verdade, mas todo este processo que descrevi acima é a manifestação duma parcela da vida, como explicada pela Kabbalah, através da mágica imagem da Árvore da Vida, aquela que estava também no Éden e que continua disponível para cada um de nós, quando conseguimos compreender que a vinda à Terra, a queda, é uma dádiva divina que cada um de nós faz a si mesmo e ao Universo, no sentido de evoluir, de crescer, de aprender o que é o Amor.
O que temos assistido nestes últimos dias, com trocas de galhardetes e ameaças de guerra nuclear, com manifestações duma suposta supremacia de qualquer coisa, resultantes dum populismo que tem vindo a crescer, como já em tempos passados assistimos, com a facilidade da crítica e do julgamento por todo aquele que se esconde atrás duma máscara, duma rede social num computador ou num outro qualquer aparelho, que se sente suportado por supostos líderes e por um ambiente de medo, é uma manifestação de poder pelo lado mais sombrio e destruidor, a antítese de tudo o que é ser humano. Se observarmos, facilmente se desmontam estes discursos, estes supostos líderes, estes ideais, mas sem grandes resultados, pois o medo que rodeia grande parte das pessoas deste mundo coloca-lhes palas, tolda-lhes a visão, interfere no simples discernimento, procurando numa manifestação sonante dum qualquer poder afastar o seu inimigo, como faz um macho quando se sente ameaçado por um outro que lhe contesta o domínio.
O medo é a sombra do amor, que ganha força quando perdemos a capacidade de nos ouvirmos, de sentirmos, de nos conectarmos connosco mesmos, quando damos o nosso verdadeiro poder, o de sermos co-criadores da nossa vida e da nossa realidade, de trazermos a nossa Luz ao mundo em que vivemos e, dessa forma, torná-lo melhor, àqueles que, por não serem capazes de ver a sua Luz, precisam da dos outros, manipulando-os, controlando-os e fazendo-os acreditar em algo que, muitas vezes, está bem longe da realidade. Por isso o Mestre nos dizia para orar e vigiar, a metáfora perfeita para um profundo recentrar em nós mesmos, na nossa essência, no abrir do nosso coração e da nossa mente para que o olhar do espírito possa suplantar os olhos terrenos.
Nenhum de nós, seja quem for, é imune aos tempos que vivemos, mas todos nós, sem excepção, somos responsáveis pelos caminhos que escolhemos percorrer e pelo que damos como alimento ao nosso espírito. Quanto melhor nos conhecemos, espírito, alma e corpo, quanto mais mergulhamos nas nossas sombras e as integramos, compreendendo-as, desde a sua origem até à sua manifestação mais visível, melhor também vamos conseguir ver as provações que nos são colocadas, nomeadamente aquelas que aparecem na forma de belíssimas oportunidades, algo tão vulgar nestes momentos, e fazer uma escolha, em consciência, assumindo, de forma simples, humilde, mas concreta, o nosso verdadeiro poder.
Leonardo Mansinhos