A vida humana na Terra é complexa, intensa e profunda, cheia de desafios e obstáculos, uma escadaria cheia de degraus que, muitas vezes, é difícil de subir. Essa complexidade leva ao desenvolvimento dum conjunto de hábitos, padrões e formas de estar que, muitas vezes, acabam por se tornar desafios bem maiores que a própria vida enquanto projecto dum espírito neste planeta.
Criamos e vivemos expectativas, desenvolvemos padrões de ansiedade por um futuro que queremos controlar e definir, entramos numa vivência de vazio, de tristeza e de desilusão. Contudo, e como sempre, basta-nos olhar à nossa volta, para a vida na Terra, não a humana, mas a vegetal e a animal, e encontramos muito daquilo que necessitamos de entender, integrar e compreender, de forma a projectar para a nossa própria vida.
Quando algum ser nasce nesta Terra, vem carregado dum propósito, um sentido, uma direcção. No caso duma planta ou dum animal, não existe a compreensão racional desse mesmo propósito, não existe sequer esse entendimento ou questionamento, pois esse ser sabe o seu caminho. Ao vivermos uma consciência mental sobre tudo o que nos rodeia, surge, necessariamente, uma vontade, uma exigência, uma profunda ânsia de entender, de compreender e, invariavelmente, de cumprir esse mesmo caminho, essa direcção.
Nada de mal existe nisso, bem pelo contrário, mas o problema surge quando a nossa dimensão mental, que é vastíssima e muito conectada com o nosso ego, acciona os instintos de sobrevivência de tal forma, que se torna controladora desse mesmo percurso e desse entendimento (ou, pelo menos, tenta!), começando a complexificar algo que em nós é simples e instintivo, o exacto processo de sermos quem realmente somos.
Talvez uma das grandes aprendizagens que a vida nos traz é a de sabermos simplificar muito daquilo que nos é trazido. Simplificar não é relaxar nem sequer relativizar, mas sim tirar o excesso, limpar o que está a mais, o que não permite a situação ser, exactamente, como ela necessita de se manifestar. Este retirar não tem, necessariamente, a ver com questões materiais ou físicas, ainda que, muitas vezes, o Universo tenha de nos colocar perante essa situação para aprendermos a viver em pleno o que nos é dado, sem um conjunto de distrações ou de coisas que em nada acrescentam ao nosso caminho.
Muitas vezes, maior parte das vezes, na verdade, o simplificar está nos nossos pensamentos e nas nossas atitudes, está no saber colocarmo-nos onde efectivamente pertencemos, no centro das nossas vidas. É saber parar, não só o nosso ritmo, como a nossa mente, reajustar os ritmos e definir as prioridades. Nesta árdua e desafiadora tarefa de saber simplificar, o propósito não é retirar nada, nem sequer ir ao extremo oposto do que, por norma, somos. Se somos de uma determinada forma, não é por contrariarmos que vamos corrigir seja o que for, bem pelo contrário, acabamos é por criar ainda mais pressão e acabamos por nos transformar em algo que não está em consonância com a nossa essência.
A arte de simplificar é saber estar e ser em quem somos, como somos e no que somos, compreendendo-nos e estando atentos e vigilantes sobre nós mesmos. Para o fazermos, precisamos de ser observadores de quem somos, não como mecanismo de controlo ou de censura e castração, mas sim como quem busca o seu autoconhecimento, como quem cuida de quem é, não para ser perfeito, mas sim para se aperfeiçoar e superar constantemente, e tal pede muito amor, muito colo e muito carinho.
Quando começamos a viver de forma mais simples nos nossos pensamentos e acções, de forma mais plena e directa, retiramos a complexidade, pois compreendemos que ela não tem, muitas vezes, a ver connosco, mas sim com muito do que nos rodeia, que aceitámos para nós em algum momento das nossas vidas, no nosso percurso, com maior ou menos consciência. Essa percepção só pode ser tida quando nos propomos a conhecermo-nos, a dedicarmo-nos a nós mesmos. É então que compreendemos também que, assim como a planta, quando rasga a semente, inicia o caminho que tem de fazer para se tornar uma árvore, não porque o controla, mas sim porque sabe que esse é o seu caminho, também nós, desde o início dos nossos dias, sabemos, intrinsecamente, para onde nos temos de dirigir. Contudo, é preciso simplificar, mergulhar no silêncio interno para nos ouvirmos, para nos conhecermos, para ouvirmos a voz que, dentro de nós, verdadeiramente, nos mostra tudo o que necessitamos de saber.
Leonardo Mansinhos