O mundo evidencia, a cada dia mais, algo que não podemos continuar a ignorar, a não querer ver e a assobiar para o lado, a enorme necessidade de amor, de compreensão, de serenidade e paz. Existe uma profunda e muito real urgência de nos sabermos colocar no lugar do outro, ao mesmo tempo que nos mantemos no nosso, de nos sabermos colocar em causa, mas sem culpa ou anulação, para nos podermos ligar e conectar, criar empatia, as preservando o nosso centro, a nossa estrutura. Assim, conseguimos ver no outro o espelho que ele é, sem assumir em nós o que não é nosso, largando no tempo certo e, da mesma forma, segurando enquanto é necessário.
Devido a estarmos (e necessitarmos de estar) na matéria, na densidade do mundo que escolhemos para encarnar, muitos dos processos que vivemos são áridos e voláteis. É nesta densidade que o percurso terreno se faz e é nela que nos precisamos de aperfeiçoar, de nos elevar e de encontrarmos o espírito que nos habita. Como todos os caminhos, este na Terra também tem condicionantes, testes e obstáculos, e um dos mais difíceis tem a ver, precisamente, com o nosso ajuste com a matéria, que nos leva facilmente à necessidade de posse e de poder.
Se tivesse de eleger a causa concreta principal dos problemas do mundo, não hesitaria em afirmar que tem a ver com a necessidade de posse e de poder, embora, na verdade, eles só sejam reveladores da dificuldade que temos em integrar a finitude de tudo o que é material, subjacente ao tempo, esse grande Mestre. Perante essa impossibilidade de nos mantermos perpetuamente na matéria, o medo do vazio, da destruição e do desaparecimento assola-nos, revelando-nos a dificuldade em integrarmos algo que, muitas vezes não temos consciência, mas que é tão profundo em nós, que se revela das formas mas ténues. Se somos Espíritos encarnados, então sentimos que não podemos apenas fazer uma passagem sem deixar algo, sem construir algo que fique, mas facilmente achamos que esse algo tem de ser material.
Na verdade, apenas permanecemos e superamos a matéria através duma enorme e bela vivência emocional, duma entrega de coração. A vida, uma passagem na Terra, na verdade, é o reflexo do amor que colocamos em tudo o que somos, em tudo o que damos de nós. No entanto, tal não pode ser feito em ego, em vivência apenas para nós mesmos, como uma forma de nos vangloriarmos de uma suposta conquista, mas sim em dádiva, em amor, em partilha de quem somos com aqueles que passam por nós, num tocar de corações, num manifestar de nós na essência divina que nos habita.
Nem sempre esse processo é pacífico, pois darmos de nós implica sermos nós, implica darmos aquilo que somos em essência, com tudo o que isso é e representa. Contudo, quando estamos em amor, estamos atentos e sabemos onde estamos, sabemos também que tocaremos os corações que precisarmos de tocar e faremos o trabalho certo no momento exacto, receberemos e deixaremos ir sem obrigações, culpas ou medos, saberemos amar, mesmo largando.
Quando vivemos nesta vibração, ou pelo menos quando nos esforçamos para fazer esse caminho, pois nenhum de nós, em momento algum, consegue fazê-lo perfeitamente aqui na Terra, conseguimos compreender o que temos para fazer, para deixar, assim como o que realmente levamos connosco em cada momento. O amor é, para o Universo e para tudo o que existe, a matéria mais valiosa, o verdadeiro fiel da balança, aquele que, quando nos libertarmos da matéria, será o indicador do que foi a nossa vida, do que fizemos ou não, do que demos ou não.
O mundo em que vivemos hoje está muito seco e árido e isso faz com que seja, muitas vezes, como um pedaço de terra que, por muitas sementes que lá coloquemos, tem muita dificuldade em ser próspero, em germinar, pois as suas capacidades não são devidamente reconhecidas e elevadas. O amor que cada um de nós vive nas suas vidas, que coloca em tudo o que é e tudo o que dá, é como a água que alimenta essa terra, que activa os seus nutrientes e dá às sementes a capacidade de germinarem. O fantástico e maravilhoso da vida é que, muitas vezes, são precisas poucas gotas para uma semente rebentar, quebrar a casca e lutar para rasgar a terra e caminhar para dar os seus frutos.
Da mesma maneira, coisas maravilhosas na Terra acontecem, para lá das guerras, da fome e de todos os problemas, mostrando-nos que existem, todos os dias, pequenas gotas que alimentam fortes e determinadas sementes. Todos nós somos sementes e, ao mesmo tempo, gotas de amor, todos os nós podemos germinar e alimentar outras sementes a serem mais do que simples potenciais, tudo depende daquilo que queremos, do reconhecimento sobre nós mesmos, da vontade de nos elevarmos para lá duma simples vivência na matéria. Nestes tempos em que tanto medo impera, em que tanto nos faz amplificar essa vivência, é o amor que nos faz ter esperança e acreditar num mundo melhor, que transforma a terra árida e seca num belo e maravilhoso jardim, desde que, cada um de nós, assim, se permita ser também.
Leonardo Mansinhos