Quando as nossas emoções nos pesam, carregamos essa prisão connosco em todos os momentos e em todos os locais onde estamos.
Podem estar na nossa casa, no roupeiro cheio de roupas que esperamos vestir um dia, no sótão repleto das memórias que ainda não tivemos coragem de nos libertar ou espalhados pela casa, como sapatos que já não usamos ou malas antigas. São emoções que carregamos e das quais nos temos de libertar, mas que continuam guardadas nas nossas vidas.
Podem estar na palma das nossas mãos, em todas as nossas redes sociais. Antigos amores a quem continuamos ligados, por não termos a coragem de nos libertarmos desse passado. Os antigos colegas de escola que nos tratavam mal e que agora seguimos para termos a certeza de que já não gozam mais connosco. Os sites de notícias que, em vez de nos informarem sobre o mundo, nos sugam a alegria de viver e deixam-nos, cada vez mais, sem esperança num futuro melhor.
Também podem estar na nossa cabeça e no nosso coração. Os pensamentos que mantemos vivos sobre a pessoa que já fomos, os erros que cometemos e a crença de que seremos sempre definidos mais pelas nossas falhas do que pelas nossas virtudes.
Não interessa onde é que estas emoções se manifestam, porque a verdade é que nós conseguimos perceber onde é que elas existem. Sabemos, porque facilmente voltamos a padrões antigos. Sabemos, porque voltamos a ter o mesmo tipo de pensamentos, mas com mais frequência. Sabemos, porque sentimos a nossa prisão a ganhar vida. Algo no nosso passado está a impedir-nos de seguirmos em frente.
Enquanto crescemos, somos ensinados a aguentar. Aprendemos que a perseverança é uma das maiores qualidades que uma personalidade pode ter. Aprendemos que, em momento algum, devemos desistir dos nossos sonhos, das nossas ambições, de todas as esperanças que temos para a nossa vida. Apesar deste pensamento ser, sem dúvida, uma grande ajuda, a verdade é que também não representa a complexidade que a vida tem. Por vezes, desistir pode ser a coisa mais corajosa e importante que podemos fazer por nós.
Ao longo da vida, teremos regularmente de desistir de muitas coisas. Teremos de nos libertar do que fomos antigamente, aquelas versões de nós que foram influenciadas pelas pessoas que nos rodeavam, de todas as peças que fomos, mas que já não somos hoje em dia. Teremos de nos libertar de antigas posses que temos, daqueles objetos que pertenciam ao nosso antigo Eu, que o definiam, eram uma expressão sua e que foram criadas por ele. Teremos de nos libertar de antigas relações, de pessoas que compreendiam e se sentiam ligadas à pessoa que éramos antigamente.
O processo de libertação e renascimento é inevitável. Podemos tentar ficar agarrados ao que nos prende, mas, eventualmente, teremos de aprender a libertar-nos. Se não o fizermos, perdemo-nos de nós mesmos e ficamos desconfortáveis na nossa pele, porque estamos a tentar juntar em nós peças daquilo que já não somos.
A verdade é que as nossas prisões emocionais não estão apenas dentro de nós, mas também se encontram espalhadas pela nossa vida. Não podemos tirar sempre uma emoção de nós, mas podemos começar a libertarmos, mudando um pouco o mundo que nos rodeia.
Podemos estar gratos e libertarmo-nos de roupas antigas, memórias antigas, pertences antigos. Podemos começar a criar uma nova vida à volta da pessoa que queremos ser, libertando-nos, aos poucos, da pessoa que éramos. Até que um dia, nos apercebemos que as emoções que nos paralisam começam a desaparecer. Não, porque as forçamos a sair de nós, mas porque nos entregamos tão profundamente a criar a nossa nova vida que, simplesmente, já não temos espaço para estas emoções.
Não nos libertamos da nossa prisão queimando as nossas emoções. A nossa libertação são as sementes que plantamos, sempre que escolhemos um novo e melhor caminho. Nós não abandonamos o amor, quando alguém nos deixa, mas libertamo-nos assim que aprendemos a amar outra vez. Não nos libertamos do nosso antigo Eu, quando deixamos de gostar de nós mesmos, mas, sim, no momento em que olhamos à nossa volta e percebemos que criámos para nós uma nova realidade, um mundo novo que combina perfeitamente com a pessoa em que nos estamos a tornar. Não nos livramos dos nossos medos, quando nos apercebemos deles, mas no momento em que agimos, apesar de termos medo, dispostos a dar passos em direção ao desconhecido.
Alcançarmos a nossa libertação faz parte da nossa condição humana e sabemos o que temos de fazer para a alcançar. Só precisamos de ter a coragem para o fazer.