Podemos ser tudo, fazer tudo, estar em todo o lado. Ou, pelo menos, é o que se tem vindo a apregoar. No entanto, a verdade é que não, não podemos ser tudo, fazer tudo, estar em todo o lado. O que são ótimas notícias.
Vivemos numa altura em que as vidas perfeitas dos outros estão na ponta dos nossos dedos. Mesmo tendo noção de que o que vemos é apenas aquilo que nos querem mostrar, não conseguimos manter longe a ideia de estarmos, de alguma forma, aquém.
Ao mesmo tempo, hoje em dia parece obrigatório acreditarmos que somos capazes de tudo e mais alguma coisa. O que nos leva a sentirmo-nos um fracasso quando não conseguimos atingir algo, como se o problema fôssemos apenas nós ou a nossa força de vontade.
Além disso, parece que existe um incentivo e uma facilidade de vivermos todas as experiências possíveis, até quando sabemos que faz bem descansar e que é impossível não perder nada – nem que seja porque as leis da física nos obrigam a estar num só sítio.
Se pensarmos em todos estes fatores, não é de estranhar que sintamos um peso gigante nos nossos ombros. Gosto de pensar que esta “pressão” veio de uma base de amor, de oportunidade, de igualdade: lembrar a quem nunca lhe foi permitido ser quase nada que tem a liberdade de ser qualquer coisa.
Só que “qualquer coisa” não é “tudo”, muito menos tudo ao mesmo tempo. É verdade que com empenho (e sorte, nunca nos podemos esquecer deste fator) conseguimos ser aquilo que quisermos. Contudo, esse empenho traz consigo uma escolha – ao priorizar o nosso tempo e a nossa atenção para concretizar um objetivo, deixamos algo para trás.
E isto não é mau. Aliás, é altamente libertador percebermos que é natural não sermos e não conseguirmos tudo, que não devemos sentir culpa nem fracasso. Mais: assumir que temos de escolher e de gerir o nosso tempo é uma oportunidade excelente para nos conhecermos e edificarmos aquilo que é efetivamente vital para nós. Só desta forma é possível termos uma vida plena, em paz, que nos dê prazer e que seja fiel a quem somos.
Ir aos concertos todos? Aceitar todos os convites? Descansar mais? Dar mais atenção aos nossos hobbies preferidos? Passar mais tempo com a família? Sair mais com os amigos? Tornarmo-nos um atleta profissional? Aproveitar mais a nossa casa? Dedicarmo-nos ao nosso negócio?
Quando estivermos nesta encruzilhada, temos de nos lembrar de que não existem respostas erradas e muito menos eternas. O correto é aquilo que for mais importante para nós naquele momento. Poderemos depois mudar de ideias, até, e priorizar coisas diferentes em alturas diferentes da nossa vida. O importante é que, na altura de escolher, optemos pelo que faz sentido para nós naquele momento, e não escolhamos com o peso da vida dos outros.
Só assim será possível sermos quem queremos e tudo o que podemos, realmente, ser. Gerir o nosso tempo para priorizar o que é mesmo importante para nós é, acima de tudo, respeitar a pessoa que somos.