Porque é que nos temos, às vezes, em tão pouca consideração? Há uma verdade que deveríamos ter em mente sempre: nós somos a única pessoa que, de certeza, nos acompanhará para o resto da vida. Então, em vez de focar o olhar apenas no outro, deveríamos também ouvir aquilo que temos para nos dizer.
Precisamos e gostamos de pessoas. As nossas relações são mais do que uma casualidade, um capricho ou uma habituação – são uma necessidade do animal social que somos. Dependemos delas para florescer, para chegar mais além, para funcionar, até para continuar como espécie. E podem ser fulcrais para nos ajudar a regular o que é aceitável, com que valores nos identificamos e a desfazer conceitos negativos que temos, seja sobre nós, sobre o outro ou sobre o mundo. Portanto, não é de admirar o peso que colocamos no que as pessoas à nossa volta pensam e dizem.
No entanto, o “à nossa volta” transformou-se, nos últimos anos, num lugar muito maior. O advento das redes sociais tornou-nos ainda mais abertos e focados nos outros, nas suas vidas e crenças, nos seus erros e nas suas vitórias, naquilo que eles teriam para nos dizer se nos conhecessem, se nos vissem. Podemos lidar com algumas pessoas não gostarem de nós? Sim, podemos lidar até com alguns amigos não aprovarem as nossas decisões. Contudo, quando, de repente, recebemos demasiado feedback sobre absolutamente tudo, quando aquilo em que pensamos parece sempre errado, sempre certo, sempre confuso, torna-se mais difícil permanecer completamente impermeável.
Por isso é que é tão necessário não deixar que o nosso bem-estar dependa dos outros. Aqui incluo quem nos quer bem e a quem queremos bem. É certo que as pessoas podem trazer-nos muita satisfação, prazeres, ilusões, relações e um futuro incrível, às vezes apenas por existirem. Porém, é perigoso colocar totalmente nas mãos delas a nossa felicidade. Nem nós merecemos essa instabilidade, nem é justo para outra pessoa ter esta responsabilidade.
Assim, é vital ouvirmo-nos. É vital querermo-nos bem, trabalharmos na construção do nosso bem-estar e da nossa felicidade de forma singular. Porque somos, primeiro, uma pessoa. Uma pessoa merecedora de atenção, de amor, de bons pensamentos, e que devem sempre começar em nós. Não podemos deixar essas necessidades em mãos alheias – é demasiado precioso.
Deixemos que os outros façam parte da nossa caminhada, que sejam companheiros de viagem e fonte de amor, sem importar o tempo que isso dure. No entanto, que isso não signifique descurarmos a relação mais importante da nossa vida, a amizade: a paixão que precisamos de ter com nós próprios, a afirmação e o respeito dos nossos valores e das nossas necessidades, a aceitação das pequenas idiossincrasias que nos tornam quem somos.
Sejamos os nossos maiores fãs, os primeiros que nos dizem palavras de amor, aqueles que também nos ralham, como ralharíamos a quem amamos, e que apanham os cacos do nosso coração quando nos deixamos ir abaixo. Abracemos os outros numa partilha de vida e do milagre que é estar vivo, mas tiremos deles o controlo para sermos quem somos. E agora, não é libertador saber que somos nós os responsáveis pela nossa felicidade?