O amor-próprio tem sido um tema recorrente em todos os meios e do qual temos falado amplamente. Gostarmos e confiarmos em nós próprios é fulcral para termos uma vida mais feliz e tranquila. Então, isso significa que precisamos de estar apaixonados por quem somos?
A resposta simples seria “sim”. No entanto, é muito mais complexo do que isso. Porque têm-nos apresentado essa ideia como um amor-perfeito, em que amamos tudo em nós, de forma quase narcisista, irrealista e inatingível. Ora, isso faz com que a meta do amor-próprio pareça ainda mais longe e nós nos sintamos ainda mais inadequados.
O amor verdadeiro, seja por nós ou pelos outros, não é perfeito, nem incondicional em relação a absolutamente tudo. Essa é uma falsa positividade e uma mentalidade quase maniqueísta, de “tudo ou nada”, bastante tóxica. Que fique claro: amor não significa amar os defeitos dos outros nem os nossos. Significa, isso sim, reconhecer e aceitar que fazem parte do que compõe o total de uma pessoa.
A perfeição não existe. Além disso, um defeito é um conceito tão subjetivo que pode, até, contribuir para outras características que apreciamos em alguém. Por exemplo, há pessoas que se zangam muito rapidamente quando fazemos algo de que não gostam, mas que nos defendem ferozmente se precisarmos. E há quem tenha dificuldade em lidar com conflitos, mas isso leva-os a resolver, de forma equilibrada, alguma contrariedade que possa surgir.
É por isso também que, tantas vezes, há amigos que têm uma opinião diferente da nossa em relação a alguém. E nós próprios somos vistos de diversas formas – para algumas pessoas seremos chatos e para outras, interessantes. É impossível agradar a todos e controlar o que os outros pensam de nós. E ainda bem! Porque (exceto se existe alguma dependência) o que alguém diz de nós não tem assim tanta relevância para a nossa vida.
Contudo, há uma opinião e uma pessoa que sim, que tem muita importância: nós próprios. Estamos constantemente connosco e estaremos toda a vida. Por isso, o que pensamos de nós vai condicionar quem somos e como experimentamos e experienciamos a vida. Em vez de sermos tão rápidos no ataque e tão permeáveis ao que os outros dizem, pensemos em nós de outra forma. Não, necessariamente, a amar os nossos defeitos, mas encarando-nos com compaixão e carinho, como faria ao seu melhor amigo.
Imagine: um amigo conta-lhe que fez algo errado, que se sente triste, que se acha incapaz. A sua reação não é animá-lo, incentivá-lo, mostrar que ele é muito mais do que pensa? E se for preciso dar-lhe na cabeça, não o faz com carinho e num lugar de preocupação? Então, dê-se esse privilégio também. Pense em si como nos seus amigos – haverá certamente coisas neles de que não gosta, mas aceita-as como parte deles, acreditando que esses defeitos pesam muito menos do que tudo o resto que eles são.
Ofereça-se essa amizade, essa aceitação e essa compaixão, porque só elas calam a brutalidade com que às vezes nos vemos e nos tratamos. Olharmo-nos ao espelho com uma paixão assoberbada pela nossa imagem, vendo-nos como perfeitos, pode ser irrealista e, inclusive, bloquear qualquer espaço para melhorarmos como pessoas. O mais importante é olharmos para o espelho com respeito, com gentileza e com o sorriso que reservamos para aqueles amigos mesmo especiais, lembrando-nos que também nós somos dignos e merecemos amor. Prometo que esta relação dura muito mais do que uma simples paixão.