A escrita é um conjunto de símbolos que permite a comunicação que não apenas a fala ou os gestos e de um modo perene, desafiando as leis do tempo e espaço. Esta invenção assinala a charneira entre a História e a Pré-História, sendo a História a ciência que estuda o passado através de documentos escritos. Com esta definição, percebe-se desde logo a importância da escrita para a percepção do passado do Homem, o único ser vivo com capacidade para a escrita, um conjunto de símbolos
Os méritos da escrita, contudo, não se ficam pelo conhecimento do passado. De facto, a escrita permite organizar melhor as nossas ideias. É aquilo que fazemos quando escrevemos uma lista de compras para nos acompanhar nas idas ao supermercado. Escrevemos todos os produtos que precisamos para as nossas despensas, para que não nos esqueçamos de nenhum. É um auxiliar precioso de memória.
Podemos elaborar ainda melhor esta mesma lista, organizando-a de forma a que , conhecendo de cor os corredores do supermercado, tenhamos que neles passar uma única vez. Por isso tendemos a colocar cada produto que precisamos junto a outros que sabemos próximos fisicamente. Os iogurtes junto da manteiga, a fruta dos legumes, o arroz junto da massa.
Memória e organização. Mas também exteriorização. Se juntarmos açúcar à nossa lista, muito provavelmente é porque esse é um dos items que nos falta na despensa. Imagine escrever sobre as suas necessidades, sem disso se dar conta.
Escrever sobre nós poderá não parecer uma tarefa tão simples quanto fazer uma lista de supermercado que, já de si, exige o equilíbrio perfeito entre as necessidades das nossas despesas e aquilo que a nossa carteira permite.
É necessário o recurso à memória, estimulada pela própria escrita, permitindo recordar-se de pormenores que não se lembrava e fazer associações até então desconhecidas para si. Esta observação vai ser bastante vantajosa, porque vai tomar conhecimento de uma uma nova realidade, que também faz parte de si, mas que tem estado oculta. Por outro lado, ao permitir exteriorizar as suas emoções, irá fazer com que elas fluam agradavelmente, em vez de ficarem encarceradas, consumindo-o.
Por fim, realce-se o poder mágico da escrita, a materialização das ideias quando transposta para o papel. É o poder criador de uma nova realidade que se desenha na ponta da sua caneta, comandada por si, como se de uma varinha de condão se tratasse, escrevendo a realidade que brota de si.
© Pedro Urbano – 2015