Acredito, e muitas vezes afirmo, que o Amor é a energia que tudo cria e tudo criou, que tudo liga e conecta, que tudo cura e reconstrói. É no Amor que nos descobrimos como seres humanos, como mais do que simples corpos animados que se passeiam durante alguns anos terrestres por este lugar. É com o Amor, e apenas com ele, que conseguimos percorrer o trilho do nosso propósito de vida.
O Amor que falo não é apenas aquele que une duas pessoas e as coloca, como nos contos de fadas, felizes para sempre, mas sim aquele que nos preenche o coração, que nos enche de vida, aquele que nos faz sorrir ou chorar quando algo nos toca o coração. É aquele Amor que dá vida, que nos faz ter esperança e fé, que é tão especial que não tem, muitas vezes, uma forma visível, mas que tudo forma e tudo conduz.
O Amor que falo não é um Amor Incondicional, bem pelo contrário, é forte, audaz, intenso e avassalador, não é fofinho e lamechas, nem sequer interesseiro ou egoísta, pois aí, não há dúvidas, não é amor. Ele é terreno, ao mesmo tempo que é espiritual, conecta-nos a tudo o que a Terra nos oferece para viver, mas liga-nos ao mais essencial da nossa existência, o nosso Espírito, ao Todo, à Fonte. Por isso, com ele, somos e sentimo-nos completos.
Contudo, não é fácil vivermos este amor, sentirmos ou o integrarmos, e ainda que ele faça parte da nossa natureza humana, desde o princípio de todos os tempos, parece que insistimos em esquecê-lo, menosprezá-lo ou, muitas vezes, tentar destruí-lo. Exemplo disso são os tempos que vivemos, com todos desafios e obstáculos, com a energia que nos rodeia e tudo o que nos está a ser solicitado. Este são tempos onde olhamos à nossa volta e vemos tanta coisa que nos faz doer a Alma, tantas atitudes egocêntricas, tantas escolhas contra a natureza humana, tanto desprezo pela vida. Contudo, estes também são tempos em que precisamos, de forma até essencial, de trazer cada partícula de Amor que nos compõe e doá-las, amplificá-las, elevá-las.
Nascemos e crescemos na vivência da carência e da limitação. Ensinam-nos que a vida é composta de limitações e restrições, de culpas e castigos, mas pouco nos falam da capacidade de voar, de nos elevarmos, de tornarmos o impossível em possível, o limitado em ilimitado. Tudo isso, porque não somos ensinados a viver na manifestação e na elevação do Amor, porque não temos a noção que o Amor é um dos recursos, talvez o único, que existe em nós, que se multiplica pela doação.
Nestes tempos de desafios, onde muitas coisas começam a sair das profundezas, quer do nosso ser, quer da sociedade, e basta olhar um pouco à nossa volta para perceber isso, é preciso sabermos compreender a necessidade vital de trazer Amor a tudo nas nossas vidas. No entanto, isso não significa colocar uns óculos cor-de-rosa para vermos tudo, bem pelo contrário, às vezes até é o inverso! Significa, sim, que precisamos de entender que tudo nas nossas vidas tem um foco, um sentido, um propósito, que tudo nos ensinar a amar, verdadeiramente, quem somos, o mundo em que vivemos, o outro, o nosso semelhante, a antítese de nós mesmos ou até mesmo o que nos magoa ou nos faz sofrer.
É preciso amar cada situação das nossas vidas, com especial foco naquelas mais difíceis, como uma doença ou um obstáculo, pela simples razão de que elas também pertencem a nós, ao nosso percurso. Não importa se as semeámos e alimentámos, não importa se as nossas escolhas nos levaram até elas, não importa sequer se nos sentimos injustiçados por mais uma coisa difícil na nossa vida, até porque nada disso vai mudar o facto de existirem. O que podemos mudar é a nossa postura, nomeadamente a percepção e a consciência de tudo aquilo que cruza a nossa existência.
Amar uma doença ou um obstáculo não significa resignarmo-nos e vivermos numa aceitação sacrificial da situação. Significa, na verdade, sermos capazes de perceber que a doença, o obstáculo, a dificuldade, o desafio, a dor, a angústia, ou tantas outras coisas que consideramos “más”, fazem parte de nós e que, precisamente por isso, são um reflexo duma parcela de nós, do nosso ser, que precisa de foco, de cuidado, de carinho, colo e afecto, que sofre, que vive castrada e presa, que está no corpo físico, muitas vezes, mas que, outras tantas, está dentro de nós, no reflexo da nossa educação, nas questões que carregamos dos nossos pais, da nossa infância, das restrições que nos foram colocadas e que ainda não soubemos trabalhar.
Todas essas questões são verdadeiros mestres para nós, como o Amor, em si, é o derradeiro Mestre, caminho e solução, o ponto de partida e o de chegada. Quando somos capazes de amar todas estas coisas, somos capazes também de nos amar de forma tão elevada, de forma tão profunda, que passamos a doarmo-nos à nossa própria vida, em vez de sobrevivermos em busca de migalhas de algo que se parece com uma vida.
Quebrar esse padrão é romper amarras, é largar pesos desnecessários, é aprender que, ainda que não tenhamos asas físicas, somos capazes de voar bem alto. É perceber, também, que o verdadeiro Amor é libertador, não carente nem possessivo, mas que larga cada coisa para que ela possa encontrar o seu lugar certo, mesmo quando ele parece errado. Saber viver o Amor desta forma, em constante e profunda doação, é, sem dúvida, um desafio duma vida, mas é também saber viver em liberdade, não física, mas do próprio Eu.
Leonardo Mansinhos