Existe uma certa beleza na imperfeição.
(Conrad Hall)
É muito conhecida a obsessão que Benjamin Franklin tinha com o seu aperfeiçoamento enquanto ser humano. Ele compreendia perfeitamente que tinha defeitos, mas esforçava-se para mudá-los. Criou uma lista com 13 das suas maiores virtudes e tirava apontamentos detalhados sempre que um defeito se manifestava. Desta forma, dedicou a sua vida a aperfeiçoar os seus defeitos e atribuiu a este seu hábito todos os sucessos que alcançou na sua vida.
É muito comum, hoje em dia, dedicarmos uma boa parte da nossa vida a tentarmos alcançar uma melhor versão de nós mesmos em todos os aspectos da nossa vida. Fazemos listas com o nome dos livros que devemos ler para nos tornarmos numa pessoa mais iluminada. Definimos objectivos difíceis de alcançar, como ter 20 valores em todas as disciplinas na escola e depois estudar afincadamente para os alcançar. Repreendemo-nos sempre que nos apercebemos de um pequeno defeito, fazendo juras de que os iremos modificar, custe o que custar. Procuramos alcançar aquilo que Benjamin Franklin queria – ser a pessoa perfeita.
A verdade é que nada nos podia deixar mais miseráveis do que viver desta forma.
Querer melhorar em algumas áreas da nossa vida pode, sim, ser algo maravilhoso. Como quando trabalhamos afincadamente para conseguirmos ser melhores a desempenhar determinada tarefa, podemos ficar orgulhosos de nós mesmos pela melhoria que alcançámos. No entanto, quando decidimos fazer o mesmo em todos os aspectos da nossa vida – do trabalho à família, passando pelos nossos passatempos –, o orgulho desaparece e só fica a sensação de se estar esgotado.
É impossível estarmos constantemente a aperfeiçoarmos o nosso ser. É como se estivéssemos a tentar construir um puzzle, quando nenhuma das peças encaixa. Mesmo que consigamos alcançar um difícil balanço entre ambos, basta um pequeno deslize para que o outrora balanço perfeito desmorone. No momento em que começamos a dedicar mais tempo ao nosso trabalho, apercebemo-nos que o tempo para a família é menor e começam a surgir problemas em casa. Ficamos doentes e temos de faltar a uma reunião importante. No fim, a vida acontece e não conseguimos encaixar todas as peças da forma perfeita que tínhamos pretendido na nossa mente. Ficamos a sentir-nos um falhanço.
É importante percebermos que, mais do que tentarmos ser uma pessoa perfeita, devemos conhecer quais são os nossos maiores defeitos. Não devemos tentar magicamente vencê-los, porque, por vezes, simplesmente não o conseguimos fazer. Em vez disso, temos de aceitar as nossas falhas e focar-nos mais a fortalecer as nossas qualidades. Ambos fazem parte de nós e só assim seremos capazes de encontrar o caminho para sermos plenos em todas as dimensões da nossa vida.
Quem é que nunca se irritou com pequenas coisas e, depois dessa explosão de emoções passar, não se sentiu desiludido consigo mesmo por ter cedido tão facilmente à raiva? Quando aprendemos a aceitar que os nossos defeitos fazem tanto parte de nós como as nossas virtudes, libertamo-nos de um ciclo vicioso e encontramos melhores formas de canalizar essa energia. Aprendemos a aceitarmo-nos em todas as nossas dimensões e paramos de sentir que estamos constantemente a falhar. No fundo, damos autorização a nós mesmos para termos defeitos, sabendo que não somos perfeitos e que as nossas falhas, assim, deixam de ter tanto poder sobre nós.
É através desta libertação que conseguimos ver os nossos amigos e a nossa família com um olhar mais iluminado, sem tentarmos que todos sejam perfeitos tal como nós o pretendemos ser. Reclamamos menos e apreciamos mais quem está ao nosso lado. Percebemos que temos amores imperfeitos na nossa vida, mas, em vez de tentarmos aperfeiçoá-los, passamos a apreciar as suas virtudes, que muitas vezes complementam os nossos próprios defeitos. É neste meio termo, neste complemento de forças, que se encontra a felicidade.
Não podemos pôr em causa a sabedoria de Benjamin Franklin, porque de certeza que existem pessoas que podem ser felizes a estarem constantemente a tentar ser perfeitas. No entanto, a verdade é que a grande maioria de nós não consegue ser feliz a tentar alcançar o impossível. Temos de estar confortáveis com todas as partes que compõe o belo e perfeito ser que somos. Só assim vamos conseguir alcançar os nossos sonhos e objectivos de vida, sem a ilusão de que algum dia seremos perfeitos.