Cada um de nós é uma ilha, ligada a um mar comum a tantas outras ilhas.
A realidade é que cada ser humano possui características e especificidades que o tornam sem-par. Em lado nenhum, existe alguém como nós, nem tão-pouco o nosso íntimo tem semelhante, por mais que nos identifiquemos uns com os outros. As alegrias podem ser partilhadas, mas não sentidas de igual forma. As tristezas podem ser comuns, mas com dor ímpar. Porque cada um tem o seu sentir e o seu ser. Porque cada um tem a sua individualidade. Porque cada um de nós é uma ilha.
Há quem considere as ilhas limitadas e isoladas e até mesmo atrofiantes, com um princípio, meio e fim de rápida e supérflua descoberta. O que há, então, para fazer dentro da ilha que somos? Descobrir, explorar, desafiar, aceitar, contemplar e ser genuíno. Acima de tudo, viver com naturalidade e autenticidade, sem filtros nem artifícios. Acima de tudo, aprender a mergulhar na descoberta da nossa verdade. Acima de tudo, caminhar no nosso relevo, rumo ao pico daquilo que somos. Pois, quanto mais caminhamos, mais percebemos que somos uma sucessão de descobertas sem-fim e que temos tanto por conhecer.
É explorando a nossa ilha que ganhamos dimensão e segurança para nos ligarmos a outras ilhas com a consciência de que fazemos parte de um todo, de um arquipélago de vidas. O mundo é feito de pedaços de terra, uns pequenos e outros grandes, uns áridos e outros verdes, sobretudo, de uma imensidão feita de pequenos mundos. Feito de nós.
Caminharmos dentro de nós próprios pode significar percorrermos túneis, levadas, ribanceiras ou trilhos arriscados, mas representa, principalmente, ganharmos o domínio dos nossos passos, termos consciência daquilo que somos e, especialmente, termos liberdade de sermos felizes. Quanto mais nos conhecemos, maior é a nossa noção do arquipélago a que pertencemos. Mais somos e menos parecemos. Maior é a nossa presença e autenticidade. Maior é a nossa genuína felicidade. Mais próximos ficamos da nossa verdade. Menor é a distância entre outras ilhas. Maior é a nossa consciência de que todos somos Um, não obstante sermos ímpares na nossa individualidade.
As ilhas têm particularidades que só quem por lá anda conhece. Se somos todos ilhas, convém que tenhamos a chave de entrada no rochedo chamado Eu. Caso contrário, andamos sempre em redor daquilo que avistamos sem nunca podermos entrar no que verdadeiramente somos. E se nunca entrarmos em nós próprios, assinamos a vida com um pseudónimo. E, assim, achamos que somos o que, em boa verdade, não passa de “existir”.
Se cada ilha é o ponto de partida da auto-descoberta e também o porto de abrigo de cada ser, como é que sabemos onde atracar no regresso a casa e à ilha que somos?
Ter um frente-a-frente connosco próprios situa-nos no arquipélago do mundo, o que pode ser incómodo e desconfortável, pois nem sempre aceitamos quem somos nem o patamar em que nos encontramos. Daí que há quem prefira nunca conhecer a sua ilha, navegando em redor de outras ilhas em busca de algo que nunca encontrará. Pois só podemos conhecer os outros, quando nos conhecemos a nós próprios.