Hoje em dia, estamos perante uma crise de identidade humana. Vivemos nos nossos ecrãs, não abrimos espaço aos nossos bonitos horizontes – uma boa conversa de café já não preenche como dantes, já não é suficiente para concertar o vazio de existir. Em vez de sairmos à rua para apreciar a beleza e a plenitude do meio envolvente, ficamos presos ao nosso mundo ilusório de “enriquecimento” pessoal. Podíamos dizer que os seres humanos e a nossa comunidade já não nos incitam à descoberta e interesse e é, por isso, que nos fechamos em nós mesmos.
Tudo isto, porque a tecnologia veio substituir o amor e, com isso, aquilo que é instantâneo ganhou força nas relações humanas. É por isso que cada vez mais se vê a propagação de relações descartáveis no nosso íntimo. Cultiva-se cada vez menos a solidariedade pelo próximo, a entreajuda e camaradagem pelos que estão, ou deviam estar, próximos de nós. É uma crise de valores assente no apogeu paradigmático da cultura do eu, do egoísmo e egocentrismo, em detrimento dos pequenos gestos de amor, de carinho, de simplicidade.
Vivemos agarrados à ilusão de dominarmos o nosso próprio mundo, quando na verdade estamos a falhar redondamente na nossa tarefa de sentir. Contudo, ainda há uma esperança bastante simples para chegar ao esplendor do nosso papel, enquanto seres humanos. Toda a nossa história foi feita de altos e baixos, pessoas que começaram em contextos difíceis e que exigiram luta e espírito de sacrifício. Todos nós tivemos os nossos momentos bons e menos bons, todos nós, nessa luta interior por mudar a realidade, tivemos a necessidade de nos agarrarmos a algo. A uma crença, a uma virtude, a um sonho.
Tudo está ao nosso alcance, se nos permitirmos ser genuínos e não tivermos medo de expressar toda a nossa autenticidade. E quando assim é, passamos a valorizar as pequenas coisas: um abraço, uma conversa, uma palavra na hora certa, uma mera troca de olhares (onde tudo fica expresso), um sorriso… É por tudo isso que vale a pena nos levantarmos de manhã. Estamos demasiado preocupados a encontrar respostas no exterior e descoramos aquilo que não foge, a nossa essência e imaterialidade. Aquilo que está connosco do início ao fim, independentemente das circunstâncias.
Temos de encontrar o devido equilíbrio para alcançar os nossos sonhos. Temos de reconhecer que não podemos mudar o mundo sozinhos, mas podemos fazer com que o mundo mude aos poucos, cultivando a nossa essência nele. Tudo é possível, se nos permitirmos ser sentimentalmente genuíno na nossa plenitude: é esse o segredo para conseguirmos estar cada vez mais próximo de nós mesmos e, deste modo, abrilhantarmos a nossa relação com o mundo.