Estar sempre sem tempo para nada e “muito ocupado” não é sinónimo de sucesso, mas antes um reflexo de desorganização e até de falta de respeito por si mesmo. Salvo algumas excepções, quando alguém diz que nunca tem tempo para si, será que gosta mesmo de si?
Num tempo em que o que mais se ouve é “estou muito ocupado”, parece ser um luxo termos tempo para nós mesmos. Para estarmos e sermos, sem pressa. Para os nossos diálogos internos. Para entrarmos no nosso espaço, sentir e encontrar sentido. E é neste espaço só nosso que por vezes nos questionamos sobre o nosso propósito, o sentido da nossa existência e das coisas. Também é aqui que nos dividimos entre a razão da mente e a razão do coração, em que a mente diz que não mente e o coração bate forte em defesa da sua razão.
Talvez o melhor seja não perder tempo a tentar encontrar respostas, mas, sim, honrar o tempo que a vida nos dá, aproveitando as oportunidades que nos são dadas para desfrutar, evoluir e dar sentido à nossa existência, não deixando para amanhã o que podemos fazer acontecer hoje, agora. Indo, mesmo com medo e sem a certeza de que vai dar certo. Até porque nada é certo, excepto a morte. Só assim é que a vida se torna numa jornada mais enriquecedora.
Temos de tentar encarar os presentes da vida com curiosidade, fazendo dos inevitáveis acontecimentos uma oportunidade para nos conhecermos um pouco mais e tornarmo-nos numa pessoa melhor. Mais selectiva naquilo que são as nossas relações e acções. Mais compassivos na relação connosco mesmos. E quando falamos em presentes, referimo-nos a tudo, às circunstâncias boas e más. Parece um lugar-comum dizer-se que não somos as nossas circunstâncias, mas, sim, o que fazemos com elas. Contudo, se os lugares-comuns têm como fonte a própria vida, então, são adágios a levar bem a sério.
O nosso maior poder é a liberdade de escolha. A escolha do que queremos ou não queremos ser e para onde queremos ou não queremos ir. Uma liberdade que tem como consequência o germinar do que semeamos e o crescer do que mais alimentamos. Então, impõe-se outra pergunta: o que é que nós alimentamos mais? E penso que é nesta estação que devemos fazer pausas regulares para percebermos o que mais cresce em nós, o que precisamos de alimentar mais e o que temos de largar…
O fim da meta é a única promessa que a vida cumpre. Não sabemos é quando a atingimos. Porém, temos de acreditar que o fim não é necessariamente o fim de tudo. Pois, o que fazemos deixa marcas, quer seja de luz ou sombra, de cor ou palor, de doçura ou amargura, dependendo do uso que damos ao nosso poder de escolha. Daquilo que fazemos por dar continuidade. Das sementes que vamos cultivando e fazendo crescer pelo caminho.
A escolha é individual. As coisas ditas, as acções feitas, os laços construídos, o amor alicerçado, os sorrisos esboçados. A cada um cabe escolher se quer ser trigo ou joio, sendo que o trigo é abundância e o joio é pobreza.
O tempo está sempre a caminho do fim, mas o bom de tudo isto é que vamos sempre a tempo de plantar novas sementes.